Em reunião com os 27 governadores, presidentes da Câmara e do Senado, membros do Supremo Tribunal Federal (STF) e Procuradoria-Geral da República (PGR) na noite nesta segunda-feira (9), no Palácio do Planalto, em Brasília (DF), o presidente Lula (PT) disse que as instituições brasileiras irão apurar e localizar todos os financiadores das invasões extremistas registradas no domingo.
"Em nome de defender a democracia, não vamos ser autoritários com ninguém, mas não seremos mornos com ninguém. Vamos investigar e vamos chegar a quem financiou", assegurou, em um discurso contundente. O presidente também reforçou a defesa do sistema democrático no país: "Nós não vamos permitir que a democracia escape das nossas mãos porque é a única chance de a gente garantir que esse povo humilde consiga comer três vezes ao dia ou ter direito de trabalhar".
O presidente foi duro na fala sobre a conivência dos militares. "Todo mundo aqui sabe quanta gente foi torturada por não concordar com o governo militar, e agora as pessoas estão livremente reivindicando golpe na frente dos quarteis e não foi feito nada por nenhum quartel, nenhum general se moveu para dizer 'não pode acontecer isso', 'é proibido pedir isso', 'nós não vamos fazer isso'. Dava a impressão que tinha gente que gostava quando o povo estava clamando o golpe", declarou.
Ao se referir àqueles que seguem mobilizados contra a democracia, Lula lembrou que não havia pauta construtiva. "As pessoas que estavam nas ruas, nas portas de quarteis, não tinham pauta de reivindicação", disse Lula. "Estiveram em todos os estados nas portas dos quarteis reivindicando o quê? Reivindicando a melhoria da qualidade de vida das pessoas? Reivindicando mais liberdade? Reivindicando aumento de salário? Reivindicando construção de habitação? Reivindicando melhoria da produção agrícola desse país? Não, eles estavam reivindicando golpe. Era a única coisa que se ouvia falar", destacou.
Lula também recebeu solidariedade de diferentes lados por conta dos ataques extremistas que chocaram o país no domingo (8). O encontro teve o objetivo de demonstrar a união de todos os Poderes em torno da defesa da democracia e fazer contraposição às invasões promovidas por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que vandalizaram os prédios do Congresso, do Planalto e do STF.
O petista recebeu manifestações de apoio inclusive de nomes alinhados ao ex-capitão, como é o caso dos governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e do Distrito Federal, Celina Leão (PP), que está substituindo interinamente Ibaneis Rocha (MDB).
Após prestar solidariedade ao petista, Freitas – que tinha chegado a divulgar que não iria ao encontro, mas depois mudou de ideia –, afirmou que o Brasil "construiu a duras penas a sua democracia e que esse é um valor que tem que ser defendido".
"Assisti as cenas do plenário e é muito doloroso para nós que participamos da democracia. É o momento da classe política, independentemente de ideologia, se posicionar", disse Celina Leão. A mandatária afirmou ainda que o sistema democrático não abriga condutas terroristas. Ela disse também que estaria dialogando com ministros do governo Lula e que foi criado um gabinete para cuidar da ordem pública.
"Entendemos a importância de não apenas emitirmos um manifesto, mas estarmos aqui presencialmente para reafirmar o compromisso dos 27 estados da Federação com a democracia e nos colocar ao lado dos Poderes constituídos deste país, neste momento sensível que a nação vive", acrescentou o governador do Pará, Hélder Barbalho (MDB).
Já a presidenta do STF, Rosa Weber, sinalizou algum otimismo em relação ao que está por vir: "Nosso prédio histórico, seu interior, foi praticamente destruído, em especial o nosso plenário. Essa simbologia a mim entristeceu de maneira enorme, mas quero assegurar que vamos reconstruir".
"Estamos demonstrando à população brasileira que as instituições não pararão. A Câmara dos Deputados fará uma sessão agora, às 20h30, que será simbólica, e aprovaremos por unanimidade a intervenção, para mostrar que não nos curvaremos a essa minoria. Essas pessoas devem ser exemplarmente punidas", ressaltou o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ao afirmar ainda que os trabalhos da Casa não foram interrompidos "nem na pandemia".
Caminhada pela Praça dos Três Poderes
Após a reunião, Lula convidou todos os participantes para atravessar a pé a Praça dos Três Poderes até o prédio do Supremo Tribunal Federal. O objetivo era que todos pudessem ver pessoalmente a destruição causada pelos golpistas no domingo.
Ao final da visita ao STF, Lula afirmou que todos estão decepcionados com os acontecimentos de domingo (8). "Essa praça é um símbolo de Brasília, um símbolo do nosso sistema de governo e todos nós estamos decepcionados, frustrados, para não dizer com muita raiva do que aconteceu aqui. esse gesto de vandalismo nunca deveria ter acontecido. Nós não vamos dar trégua até descobrirmos quem são os responsáveis que financiaram tudo o que aconteceu nesse país".