Lula sabe que está cada vez mais difícil vencer no primeiro turno. Por isso, já começa a acenar para dois adversários de agora, Ciro Gomes e Simone Tebet, em busca de uma composição no segundo turno. É esse o pano de fundo da cordialidade de Lula, que escolheu não ir pra cima de Ciro e de Tebet, quando os dois candidatos, que só têm um dígito de intenções de votos nas pesquisas, requentaram levianamente velhas denúncias frias contra os governos do PT, no debate entre os presidenciáveis, domingo (28), na Band.
Um Lula risonho para Ciro, chegou ao ponto de fazer blague das ofensas que recebia do pedetista: “Ciro tem o coração mais mole do que a língua”, disse, acrescentando que, se vencer, espera atrair o apoio do PDT.
“Lula é esse encantador de serpente”, respondeu Ciro, que, curiosamente, colocou-se no papel de “serpente”. E acusou o petista: “Lula se deixou corromper”.
Em vez de rebater, Lula disse: “Mesmo assim nós ainda vamos conversar e você vai pedir desculpas, porque sabe que está dizendo inverdades a meu respeito. […] Eu não fui para Paris [em 2018]. Eu fui absolvido nos 26 processos”.
Com Tebet foi a mesma coisa: Lula levantou a bola para Tebet cortar. Perguntou sobre a CPI da Covid, em que a senadora emedebista brilhou. Tebet respondeu que “houve corrupção, tentativa de comprar vacina superfaturada”. Em seguida, arrematou : “a corrupção é fruto de governos passados. Esse governo teve corrupção, como lamentavelmente teve o governo de vossa excelência.” Em resposta, Lulinha Paz e Amor repetiu que em seus governos criou ferramentas de controle da gestão e de repressão à corrupção. E só.
Essa auto-contenção de Lula visa a, se não conseguir converter Ciro em apoiador (Ciro sempre pode ir para Paris), pelo menos trazer os votos dos correligionários do pedetista no segundo turno. O mesmo vale para Tebet. É um jogo difícil, porque muita gente lê essa falta de agressividade como uma espécie de “fraqueza” de Lula. O tempo dirá se a estratégia do petista está certa ou errada.
A pesquisa BTG-FSB, divulgada hoje (29) mostra que Lula aparece com 40% das intenções de voto espontâneo (em que não são mencionados os nomes dos candidatos), contra 33% de Bolsonaro. Considerando-se apenas os votos válidos, Lula fica então com 48,7% dos votos, menos do que os 50% mais um necessários à eleição em primeiro turno. Ou seja, é provável um segundo turno!
O mais preocupante é que, em 21 de março, Lula tinha 38% das intenções de voto, contra 27% de Bolsonaro. Agora, os 40% de Lula mostram uma oscilação dentro da margem de erro, entre março e agosto. Já Bolsonaro cresceu de 27% para 33%, um acréscimo de 6 pontos percentuais –portanto fora da margem de erro, que é de 2 pontos para mais ou para menos.
Então, podem se preparar: Lula vem devagar, devagarinho, e vai seguir assim contra os adversários Ciro e Tebet. Mas ele mesmo já adiantou qual será sua estratégia. Durante a sabatina no Jornal Nacional, Lula citou uma frase adaptada do livro ‘Pedagogia da Esperança’, do educador pernambucano Paulo Freire: “a tolerância (…) consiste na convivência com os divergentes para que se possa melhor lutar contra os antagônicos”. Para bom entendedor: Bolsonaro é o “antagônico”.