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Opinião

Por ser a novidade, Kamala tem mais chance de ganhar as eleições que Trump

A temperatura entre os dois candidatos está altíssima

Publicada em 05/11/2024 às 07:46h

Carlos Wagner


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Marina
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A acirrada disputa pela presidência dos Estados Unidos entre Donald Trump (republicano), 78 anos, e a vice-presidente Kamala Harris (democrata), 60 anos, me faz lembrar do meu tempo de criança, mais precisamente das tardes de domingo na sessão de matinê do cinema do seu Giovanni Fosse, lá em Encruzilhada do Sul, pequena cidade agrícola na Serra do Sudeste, a uns 200 quilômetros de Porto Alegre, onde a água congela nos canos no inverno. Os filmes de sucesso garantido eram os bang-bang, onde o mocinho e o bandido resolviam suas diferenças em duelos ao pôr do sol na rua principal de uma cidadezinha empoeirada do Velho Oeste americano. Os roteiristas de Hollywood foram muito competentes em vender para o mundo a ideia dos bang-bang. A tal ponto que muita gente passou a pensar que nos Estados Unidos as coisas eram resolvidas em duelos ao fim de tarde. Era só ficção. Mas a ideia ficou.

Trump e Kamala estão empatados nas pesquisas de intenção de voto. E a temperatura entre os dois está altíssima. Porém, eles não vão decidir a disputa ao modo dos cowboys do Velho Oeste dos roteiristas de Hollywood. Mas nas urnas. Kamala tem mais chance de ganhar as eleições do que Trump. Porque ela é a novidade na disputa eleitoral e o seu discurso mais enxuto, preciso e plugado nas necessidades do dia a dia dos americanos. Já o discurso de Trump é basicamente o mesmo roteiro (cheio de esculacho contra os imigrantes, mentiras, teorias da conspiração e desaforos contra a imprensa) que utilizou para ganhar as eleições presidenciais de Hillary Clinton (democrata), 76 anos, em 2016. E que usou novamente em 2020, quando concorreu à reeleição e perdeu para o atual presidente, Joe Biden (democrata), 81 anos. Além disso tudo, ainda existem as dezenas de horas de vídeos mostrando seguidores de Trump invadindo o Capitólio em 6 de janeiro de 2021 para impedir a sessão do Congresso que ratificaria a vitória de Biden.

Na invasão, morreram seis pessoas e dezenas ficaram feridas. Ainda há a história da indicação de Kamala para concorrer às eleições. Quando se elegeu em 2020, Biden havia dito que não iria disputar a reeleição devido a sua idade e porque seu candidato seria a sua vice, Kamala. Ninguém se levantou no partido Democrata para pedir que Biden cumprisse a sua palavra. A vice permaneceu quieta, demonstrando fidelidade a Biden. No dia 27 de junho, o presidente teve um debate com Trump na CNN, em Atlanta, e sofreu um apagão mental. Imediatamente, lideranças democratas, como os ex-presidentes Bill Clinton (1993 a 2001), 78 anos, e Baracak Obama (2009 a 2017), 63 anos, pressionaram Biden a desistir. Depois três semanas de pressão, ele desistiu e indicou Kamala para concorrer. Importante: durante todo este tempo em que Biden foi pressionado a desistir, a sua vice ficou ao lado dele. Enquanto ele decidia, o assunto se manteve nas capas dos jornais e nos noticiários. Trump caiu para o pé da página. Na ocasião, Biden estava atrás de Trump nas pesquisas de intenção de voto. Na primeira semana como candidata, Kamala empatou com Trump. Outro trunfo da candidata é a questão do aborto, que estava legalizado por mais de meio século nos Estados Unidos. Mas os juízes da Suprema Corte indicados por Trump derrubaram a legalização. Kamala prometeu lutar pela legalização. Mas Trump também tem os seus trunfos. O principal deles é o apoio da extrema direita americana, uma das mais ricas e organizadas do mundo. Eles usam a expressão “Unite the Right” (Una a direita). O maior grupo de extremistas é a Ku Klux Klan, que surgiu em 1865 e atualmente tem mais de 9 mil militantes e é responsável por uma longa lista de atrocidades contra os negros e outras minorias. Tive uma conversa com um amigo que imigrou, na década de 90, para Los Angeles, na Califórnia. Ele trabalha como professor. Perguntei se estava esperando confusão caso Trump perdesse e resolvesse virar a mesa. Ele respondeu: “Ele pode tentar, mas não vai levar porque as autoridades agora já sabem do que ele é capaz”.

Há uma conversa nova entre os repórteres nas redações sobre os candidatos turbinados pelas redes sociais da extrema direita nos Estados Unidos e no Brasil. Estamos sendo lembrados pelos cientistas sociais que o prazo de validade das coisas nas redes sociais é muito pequeno. O famoso de hoje tem chances reais de ser o esquecido da próxima semana. No Brasil tem sido eleitos dezenas de parlamentares prometendo colocar fogo no mundo. A maioria não levou adiante as promessas. Muito pelo contrário. Se acomodaram com os gordos salários que passaram a receber, com as mordomias do cargo e o prestígio de ser um parlamentar. Os que levaram adiante a promessa de tocar fogo no mundo acabaram saindo das manchetes porque os jornalistas perceberam que as besteiras que dizem não são mais notícia. É nossa obrigação como repórteres sempre lembrar aos leitores o que significa a extrema direita. Conseguiram implantar o nazismo na Alemanha nos anos 30, com Adolf Hitler (1889 – 1945) e, na Itália, o fascismo com Benito Mussolini (1883 – 1945). Foram os arquitetos da Segunda Guerra Mundial, um conflito que deixou um rastro de 70 milhões de mortos, entre militares e civis. E as atrocidades cometidas pelos nazistas nos campos de concentração estão disponíveis em filmes, livros e muitos documentos. Recomendo a leitura de um deles: o julgamento dos criminosos de guerra em Nuremberg pelos oficiais das Tropas Aliadas. Eles tentaram descobrir como os nazistas conseguiram convencer a população da Alemanha a ser cúmplice da crueldade praticada contra as minorias.




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