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Opinião

PL da anistia aos golpistas não conseguirá apagar as imagens do 8 de janeiro

Imprensa precisa ouvir os que foram para as ruas lutar pela volta da democracia

Publicada em 02/11/2024 às 09:13h

Carlos Wagner


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Marina
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Há um dito popular que já circulava nas redações dos jornais em 1979, época que comecei a trabalhar como repórter, e continuava por lá em 2014, quando sai. E, pelo que eu sei, ainda permanece firme e forte. Ele diz: uma imagem vale mais que mil palavras. Claro, houve uma adaptação aos novos tempos. A palavra “imagem”, que antes era sinônimo de “fotografia” (sempre achei que o criador deste dito havia sido repórter fotográfico), hoje passou a incluir vídeos e outras mídias visuais. Mas é mesma coisa. Lembrei-me da expressão analisando a cobertura que a imprensa vem fazendo sobre a tramitação do Projeto de Lei 2858/22, o chamado PL da Anistia, para beneficiar os golpistas que quebraram tudo que encontram pela frente em 8 de janeiro de 2023 no Palácio do Planalto, no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Congresso, na Praça dos Três Poderes, em Brasília (DF). O objetivo da quebradeira e de outras lambanças que fizeram, como tentar explodir um caminhão-tanque com 60 mil litros de combustível para avião no Aeroporto Internacional de Brasília, era provocar uma confusão que obrigasse o governo federal a decretar uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que seria cumprida pelas Forças Armadas, onde estavam alojados os militares bolsonaristas que trariam de volta ao cargo o ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL), 69 anos, que havia concorrido à reeleição e fora derrotado pelo atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 79 anos. A armadilha não funcionou porque o governo não declarou a GLO e todos os manifestantes, mais de 1,2 mil, foram presos e processados, juntos com os seus financiadores e responsáveis pela articulação intelectual da tentativa de golpe – matérias na internet.

O projeto tramitava na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, presidida pela deputada bolsonarista Carolina de Toni (PL-SC), 38 anos. Caso fosse aprovado, e as chances eram enormes, caberia ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), 55 anos, decidir quando iria à votação no plenário. Na terça-feira (29), Lira fez uma manobra para atrasar a tramitação da anistia para os golpistas criando uma comissão especial que irá debater o assunto. Fez essa manobra com o objetivo de conseguir votos do PT, que é contra o projeto, e do PL, que é a favor, para eleger o seu candidato na eleição do presidente da Câmara, em fevereiro, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), 35 anos. Mas o fato é o seguinte. O PL da Anistia, usando o linguajar dos colegas que fazem cobertura de futebol, continua uma “bola viva” picando na área, à espera de um pé que o chute a gol. Aqui entra a história da imagem que citei lá no início da nossa conversa. Existem dezenas de horas de vídeos sobre o quebra-quebra. Estas imagens mantêm os acontecimentos vivos. Imaginem. Os brasileiros vão ficar sentados nos seus sofás comendo pipoca enquanto assistem aos responsáveis por toda aquela lambança serem anistiados?

Lembro o seguinte. Os brasileiros lutaram pela democracia que temos nos dias atuais. Muitos morreram, foram torturados, perderem seus empregos em nome de uma causa chamada democracia. Uma boa parte da geração que lutou contra os militares que deram o golpe em 1964 ainda está por aí. E também os articuladores das Diretas Já, movimento pelas eleições presidenciais em 1984. E o pessoal que participou das manifestações populares de 2013, que começaram com uma reclamação contra o preço da passagem de ônibus pelo Movimento Passe livre (MPL), na cidade de São Paulo, e se alastraram pelo Brasil inteiro, levando milhares de pessoas a protestar pelas ruas e avenidas do país. Trabalhei na cobertura das manifestações em Porto Alegre. Foi uma barra muito pesada. Os especialistas dizem que, caso a anistia seja aprovada, ela será barrada pelos ministros do STF por ser inconstitucional. Faz parte da história do Brasil iniciar as articulações para a próxima campanha eleitoral no minuto seguinte em que termina uma eleição, no caso atual, o segundo turno das eleições municipais, realizado no último domingo (27). Portanto, já estamos vivendo as articulações para a próxima disputa, que será a Presidência da República, em 2026. Isto significa que pautas serão turbinadas para mobilizar as bases. O projeto de anistia para os golpistas é o tipo de assunto que mobiliza as bases. Ainda tem mais: o ex-presidente Bolsonaro foi declarado inelegível até 2030 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele vai tentar virar a mesa e concorrer em 2026. Isso significa que fará muito barulho.

Neste ambiente tenso, a questão da anistia para os golpistas de 8 de janeiro pode funcionar como o detonador de uma situação muito complicada. A cobertura da imprensa está acertadamente focada nas articulações dos bolsonaristas para enfiar garganta abaixo dos brasileiros a anistia. Mas é preciso incluir nesta cobertura o lado daqueles que lutaram pela nossa democracia. A maneira como a história vem sendo contada para os leitores parece considerar que estas pessoas não existem mais. Há mais um detalhe nesta história. A maneira como o ex-presidente conta a sua versão do 8 de janeiro faz parecer que os golpistas estavam lutando pela democracia. E não contra a democracia. Claro, ele está vendendo o peixe dele, faz parte do jogo. Vou contar aqui uma história que repito sempre que tenho oportunidade de falar sobre o assunto, por considerá-lo muito importante. Bolsonaro nunca mentiu ou deixou de cumprir uma promessa. Ele sempre defendeu a ditadura militar e outras formas de autoritarismo. Entre os seus seguidores, durante o seu governo (2019-2022), havia um contingente de pessoas que acreditava que poderia controlá-lo e impedir os seus excessos. Não conseguiram e acabaram se complicando com a Justiça. Mesmo assim continuam orbitando ao redor do ex-presidente. Vão acabar se complicando novamente. Fato é o seguinte. Bolsonaro nunca foi um estrategista político. Ele acorda pela manhã e a primeira ideia que vem à cabeça para beneficiar a sua família é colocada em prática. Foi assim que acabou chegando a presidente da República e que conseguiu ficar inelegível até 2030. E também está respondendo na Justiça a uns 300 processos e inquéritos policiais.

 




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