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Opinião

"Cadeirada do Datena" elegeu Marçal prefeito de São Paulo?

Publicada em 17/09/2024 às 10:58h

Carlos Wagner


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Por ser a maior e mais importante cidade do Brasil, as eleições municipais de São Paulo têm sido notícia de capa dos jornais brasileiros. Subiram um andar e viraram manchete internacional no domingo (15), durante um debate ao vivo na TV Cultura, quando o candidato José Luiz Datena (PSDB), 67 anos, respondeu a um insulto do seu adversário Pablo Marçal (PRTB), 37 anos, com uma cadeirada. Nos segundos seguintes à agressão ouviu-se uma enxurrada de palavrões entre os brigões e, no final, Datena foi expulso dos estúdios da Cultura e Marçal, levado para um hospital. Houve uma interrupção de 10 minutos no debate, que prosseguiu depois de um acordo entre os outros candidatos: Guilherme Boulos (PSOL), 42 anos, Tabata Amaral (PSB), 30 anos, Marina Helena (Novo), 44 anos, e o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), 56 anos, que concorre à reeleição. Todos os quatro condenaram a agressão. Nunes e Boulos acrescentaram que Marçal vem usando o insulto, a mentira e o esculacho para provocar os adversários nos debates. Datena alegou que “perdeu a cabeça e teve uma reação humana”. A assessoria de Marçal afirmou que a cadeirada pode ter provocado fraturas e que o caso será registrado na polícia. Este é o fato. O dia a dia deste rolo vai ficar nas manchetes por um bom tempo. Vamos falar sobre os cantos escuros dessa história que deverão minguar na cobertura diária devido a intensidade dos acontecimentos.

Os cantos escuros são uma acirrada disputa pela prefeitura de São Paulo. Onde Boulos tem 23,9% nas pesquisas de intenção de votos, Nunes, 23,8%, e Marçal, 21,3%. Tecnicamente, os três estão empatados. Datena, que é um popular apresentador de televisão, aparenta estar fora da disputa, tem apenas 6% nas pesquisas. Mas não sairá da corrida sem um título. Ele foi o cara que “perdeu a cabeça e caiu nas provocações” que já tinham sido feitas a Boulos e Nunes. Os dois tiveram sangue-frio e não pisaram na casca de banana. Marçal é um ex-coach que ganhou dinheiro com a internet e enveredou para a política. Tratei do assunto no dia 27 de agosto no post Troca de “tapas e beijos” entre Bolsonaro e Marçal na campanha de São Paulo. Ele prega para os seus seguidores que o sucesso depende exclusivamente da pessoa. Não é o caso da sua carreira política. O sucesso dela depende da solução de uma equação bem complexa. Pretende vencer a eleição para prefeito e depois concorrer a presidente da República. Para o seu plano dar certo, precisa do apoio do ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL), 69 anos. Na disputa pela prefeitura paulistana, embora o ex-presidente tenha dito que tem simpatia por Marçal, oficialmente ele apoia Nunes. Marçal acredita que tem bala na agulha para passar para o segundo turno da eleição. E que no segundo turno é outra história. Se vencer, a sua intenção não é esquentar o banco na prefeitura. Mas usar o cargo como trampolim para ser o candidato de Bolsonaro à Presidência da República em 2026. O atual candidato do ex-presidente é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), 49 anos. Marçal acredita que conseguirá tirar o governador do páreo.

Para este plano funcionar, ele precisa ficar com a popularidade em alta. E a atual maneira de se manter popular é criando confusões. Tática amplamente usada por Bolsonaro durante o exercício do seu mandato (2019 a 2022). Mas que não foi inventada por ele, que a copiou do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump (republicano), 78 anos (2017 a 2021). O ex-presidente brasileiro foi condenado a oito anos de inelegibilidade pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). E atualmente responde a mais de 300 inquéritos policiais, processos e outras ações na Justiça. Trump tem uma condenação na Justiça – matéria na internet. E responde há vários outros processos e investigações policiais. Atualmente, é o candidato preferido nas eleições presidenciais americanas em novembro, concorrendo contra a vice-presidente, Kamala Harris (democrata), 59 anos. Ou seja, Marçal não inventou essa forma de comportamento na política. Ela vem se consolidando nos últimos anos. Surgiu na década de 30, na Alemanha nazista de Adolf Hitler – matérias disponíveis na internet. E foi ressuscitada e aperfeiçoada com as novas tecnologias da comunicação que foram incorporadas à disputa política. A internet é a tecnologia dos tempos atuais. Mas a arte de mentir, fazer intrigas e criar outros artifícios de distorcer a realidade é muito antiga. Foi usada pelos serviços de inteligência dos exércitos através dos tempos. Há muita literatura sobre o assunto disponível na internet.

Como os eleitores vão reagir à “cadeirada do Datena”? Saberemos nas próximas pesquisas. Vou fazer um comentário que considero importante para se compreender o que aconteceu. A imprensa afirma que o objetivo dos debates políticos é esclarecer o leitor sobre a posição dos candidatos frente aos assuntos relevantes da comunidade. Não é bem isso. É tradição os debates não discutirem matérias relevantes. Os candidatos limitam-se a espalhar cascas de banana para serem pisadas pelos adversários. É assim nas mais tradicionais democracias do mundo. Este é o jogo. Cascas de bananas jogadas para os adversários são assuntos agradáveis para os eleitores. Os incidentes são usados pelos organizadores dos debates para aperfeiçoar o próximo. Claro, o que aconteceu na TV Cultura será estudado e autopsiado e o resultado, debatido.




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