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Opinião

Até onde o presidente do BC vai esticar a corda dos juros altos?

No meio de um mar de incertezas, qual delas impede o Copom de baixar a Selic?

Publicada em 24/06/2023 às 10:58h

Carlos Wagner


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Marina
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Contrariando a previsão de segmentos importantes da economia nacional, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), manteve a taxa básica de juros da economia (Selic) em 13,75% e não sinalizou que poderá baixá-la em um futuro próximo. Quais os motivos que levaram à manutenção da taxa dos juros pelo Copom e pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto? Como a economia não é uma ciência exata, existe uma lista enorme de motivos, entre eles um que merece ser citado. Antes vou descrever o cenário. É fundamental para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a aprovação pelo Congresso de duas medidas, o arcabouço fiscal e a reforma tributária. Pelo que temos noticiado, as negociações entre o governo e os parlamentares a respeito dos dois assuntos vêm correndo bem. O arcabouço fiscal foi aprovado na Câmara dos Deputados. Foi para o Senado, onde sofreu algumas mudanças e foi aprovado. Voltou para a Câmara, para os deputados apreciarem as mudanças. Onde percorre os caminhos normais dentro dos prazos legais. Enquanto isso, o esboço da reforma tributária está sendo construído pelos parlamentares dentro dos prazos. Dentro desse cenário, o presidente do BC tem informações que o levem a acreditar que os deputados e senadores não vão aprovar o arcabouço e a reforma? Ou apenas tem dúvidas sobre o assunto e prefere esperar para ver?

Omercado está apostando que as medidas serão aprovadas. Tanto que a inflação vem diminuindo, o dólar baixado em relação ao real e outros indicadores da economia estão se mostrando favoráveis à queda da Selic. Não vou discutir os índices da economia nacional, que estão disponíveis online na internet e nos noticiários. Mostrei esse cenário para podermos conversar sobre política. Lembro que em 17 de fevereiro publiquei o post Como separar o blefe da verdade no bate-boca entre Lula e Campos Neto? Onde conversamos sobre o fato de Campos Neto ser o primeiro presidente eleito do BC, portanto, com estabilidade no cargo, desde que obedeça às regras estabelecidas pelo Congresso. E dele ter sido indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que na sexta-feira (23/06) o elogiou durante uma entrevista para a Rádio Gaúcha, de Porto Alegre (RS). Nos dias seguintes ao início do seu mandato, Lula já começou a reclamar dos altos juros do BC. No meio das reclamações lembrava que Campos Neto era ligado a Bolsonaro. Nos dias atuais, o presidente da República segue reclamando contra os juros e tem sido mais contundente na questão das ligações de Bolsonaro e o presidente do BC. Todo mundo sabe, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mais que todos, que essa questão terá que ser resolvida de maneira política, por vários motivos, vou citar dois. O primeiro é que Campos Neto só pode ser demitido caso comenta alguma irregularidade. E o segundo, que a estabilidade do BC é necessária para manter a credibilidade do governo perante os mercados. A estratégia do governo está sendo investir dinheiro em infraestrutura, programas sociais e incentivos ao consumo nos mercados. Essa estratégia levou os empresários, especialmente do varejo, a pressionarem o BC por juros mais baratos. Diariamente, dezenas de grandes, médios e pequenos donos de negócios reclamam dos juros.

Tenho estado atento aos conteúdos que temos publicado sobre a questão da taxa Selic a 13,75%, considerada uma das maiores do mundo. E tenho notado que os comentaristas econômicos estão mudando os conteúdos dos seus noticiários. Muitos deles, que antes explicavam ao seu leitor a economia como uma ciência exata, já admitem que as coisas não são bem assim. Até porque existem várias linhas de pensamento econômico no mundo. E que geralmente em países grandes e complexos, como é o caso do Brasil, há várias linhas econômicas atuando. Sempre que um analista econômico pensa antes de escrever é importante que os repórteres envolvidos na cobertura do dia a dia dos noticiários, geralmente jovens mal pagos e superatarefados, busquem compreender os fatos econômicos lendo esses comentários. Eu fazia isso em 1979, quando comecei na carreira de repórter. Com a tecnologia atualmente disponível, os focas podem apertar um botão no teclado e ter acesso a comentaristas econômicos ao redor do mundo. Para quem não é jornalista, foca é como os novatos das redações são chamados. Para arrematar a nossa conversa. A economia nacional não está caminhando na velocidade necessária para acabar com os grandes problemas, como é o caso dos 30 milhões de brasileiros que passam fome. Mas está caminhando, o que é importante. Por hora, os grandes espaços nos noticiários estão sendo ocupados pelas investigações na busca dos responsáveis pelo financiamento de 8 de janeiro, quando bolsonaristas radicalizados invadiram a Praça dos Três Poderes, em Brasília (DF), e quebraram tudo que encontraram pela frente nos prédios do Congresso, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal (STF).

Sobre os atos terroristas de 8 de janeiro todas as semanas há uma novidade. Na próxima, o assunto principal deverá ser o julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do ex-presidente Bolsonaro, que está sendo acusado de ter denunciado sem provas fraudes nas eleições brasileiras durante um encontro com embaixadores de diversos países durante o seu governo (2022). Esse encontro do ex-presidente com os embaixadores mostra que os atos de 8 de janeiro não brotaram do chão. A tentativa de golpe vinha sendo articulada havia bastante tempo. Lembro que na semana seguinte ao ex-presidente ter assumido o seu mandato, em 2019, os rumores de que seria articulado um golpe de estado começaram a circular. Incentivados pelo próprio Bolsonaro, que nunca escondeu as suas intenções golpistas. Muito pelo contrário. Sempre se orgulhou delas. Se for condenado pelo TSE, o ex-presidente pode ficar inelegível até 2030. Apesar desse rolo todo, a economia do país segue dando sinais de recuperação. Claro, tudo seria facilitado se o presidente do BC abrisse o jogo e falasse sobre o que o impede de baixar os juros.




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