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Opinião

O custo para os brasileiros dos 15 minutos de fama do presidente do BC

Senado vai preservar a cabeça de Campos Neto ou a autonomia do Banco Central?

Publicada em 14/04/2023 às 09:34h

Carlos Wagner


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Marina
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O custo para os brasileiros dos 15 minutos de fama do presidente do BC
 (Foto: Assessoria)

Nos próximos 100 dias do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) os senadores e deputados federais estarão em uma saia justa porque terão que decidir entre preservar a autonomia do Banco Central (BC) ou cortar a cabeça do seu presidente, o economista Roberto Campos Neto, 53 anos. Vou descrever o pano de fundo dessa saia justa, como se dizia nas redações nos tempos das máquinas de escrever. Com o objetivo de ter uma ferramenta importante na organização da economia do país, em 15 de fevereiro de 2021 a Lei Complementar 179 deu autonomia para o BC. Com isso, o Brasil entrou no clube dos 20 países, dois na América do Sul, a ter um banco central independente. Mexer na autonomia do BC seria apagar fogo com gasolina, porque espalharia desconfiança nos mercados ao redor do mundo, o que atingiria diretamente o saneamento que o governo Lula está tentando fazer na esculhambação da economia nacional herdada do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) – há matérias na internet. É opinião do governo Lula, de empresários e de partes importantes da grande imprensa que Campos Neto vem conduzindo a administração do BC misturando a sua opinião sobre governo federal aos seus comentários técnicos na defesa de manter a taxa Selic em 13,75% – há matérias na internet.

Opresidente do BC tenta vender a ideia de que a economia é uma ciência exata. Qualquer aluno do primeiro ano de faculdade sabe que não é. Ela tem várias linhas de pensamento. Tratei desse tema em 17 de fevereiro, no post Como separar o blefe da verdade no bate-boca entre Lula e Campos Neto? Por que ele insiste na tese da economia ser uma ciência exata? O que nós sabemos a respeito do assunto? Ele assumiu o BC antes da autonomia, em 2019, por indicação de Bolsonaro, e foi indicado e apoiado por ele em 2021, na eleição para a presidência do banco. É neto do economista Roberto Campos, que foi ministro do Planejamento do primeiro presidente da República da ditadura militar (1964 a 1985), o general Castelo Branco. Em 1965, o economista criou o BC. O ex-presidente da República nunca escondeu a sua devoção aos golpistas de 64. Inclusive tentou dar um golpe e falhou. A última vez foi em 8 de janeiro, quando seus seguidores quebraram tudo que encontraram pela frente na Praça dos Três Poderes, no Congresso, no Palácio do Planalto e no Supremo Tribunal Federal (STF). Não temos nenhuma informação concreta de que as ligações políticas de Campos Neto estejam influenciando a maneira como administra o BC.

Oque nós temos de certeza. Nos jornalistas aprendemos durante o mandato de Bolsonaro que arrogância e escasso conhecimento técnico eram as marcas registradas dos ministros do governo. Cito o então general da ativa Eduardo Pazzuelo, que ocupou o Ministério da Saúde no auge da pandemia da Covid. Ele transformou o negacionismo do então presidente da República em política do governo. O resultou disso foram mais de 700 mil brasileiros mortos e um rastro de irregularidades na Saúde, como constam nas 1,3 mil páginas do relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado da Covid-19 (CPI da Covid). Ele se descuidou e desobedeceu uma ordem do então presidente. No encontro entre os dois, Pazzuelo falou: “Uns mandam e outros obedecem”. Na época, o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, se tornou famoso na opinião pública quando recomendou, durante uma reunião ministerial com o presidente, que o governo deveria aproveitar que a imprensa estava preocupada com a Covid e “passar a tropa no rio”, referindo-se a decretos que regulamentam importantes áreas da administração pública federal, como o controle de armas, o garimpo nas terras indígenas e outros assuntos. O então superministro da Economia, Paulo Guedes, chamado pelo presidente de Posto Ipiranga, falou que era um absurdo as empregas domésticas passarem as férias na Disneylândia, nos Estados Unidos. Só citei esses três ex-ministros. Mas poderia citar muitos mais.

Aconclusão é óbvia. Campos Neto é mais um arrogante dos líderes que faziam parte do círculo pessoal de Bolsonaro. E está forçando a barra na história dos juros para ter os seus 15 minutos de fama. Apostando que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), vão segurar a sua barra. Eles não vão colocar em risco a autonomia do BC porque o seu presidente resolveu enfiar os pés pelas mãos. Ele armou uma bagunça tão grande no bate-boca com Lula que a questão técnica foi para o saco e o que ficou foi um discurso confuso do BC, tentando justificar para o mundo os motivos pelos quais o Brasil tem o maior juro do mundo. Isso acontece exatamente na hora que a população passa por um grande aperto: 30 milhões de pessoas passando fome, 9 milhões estão desempregadas, a indústria automobilística parada devido aos juros elevados e mais um punhado de problemas de todos os calibres. Eles vão convencer o presidente do BC a pedir para sair, conforme o previsto na Lei Complementar 179. Podem apostar. O que escrevi não é opinião. São fatos e entrelinhas das matérias que publicamos sobre a administração do BC por Campos Neto. Relato aqui também parte de uma conversa que tive com um colega americano sobre o bate-boca entre Lula e o presidente do BC. Ele observou que a maneira como muitos noticiários estão tratando o assunto faz parecer que a autonomia do BC e a permanência de Campos Neto são a mesma coisa. Não são. Isso precisa ficar mais claro nas nossas matérias. Li o currículo profissional do presidente do BC, ele é discreto e o maior emprego da sua vida foi dado por Bolsonaro. Isso é um fato.




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