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Opinião

O que ex-ministro da Justiça sabe sobre os Generais do Bolsonaro?

O que o ex-ministro Torres irá falar para a Justiça Federal?

Publicada em 13/01/2023 às 08:34h

Carlos Wagner


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Marina
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O que ex-ministro da Justiça sabe sobre os Generais do Bolsonaro?
 (Foto: Web)

O que se descobriu até agora sobre o ato terrorista de bolsonaristas radicalizados contra o Palácio do Planalto e os prédios do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF), na Praça dos Três Poderes, em Brasília, no domingo (08/01), indica que foi tudo planejado como se fosse uma operação militar. Ainda faltam esclarecer na investigação pontos importantes, cito um deles: o papel no evento dos chamados Generais do Bolsonaro, um grupo de militares da ativa, reserva e reformados que faziam parte do círculo íntimo de líderes do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Muitas das pontas que ainda estão soltas nessa investigação poderão ser atadas caso resolva abrir o jogo, no seu depoimento à Justiça Federal, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública de Bolsonaro, Anderson Torres. Ele era secretário da Segurança Pública do Distrito Federal (DF) no dia do ato terrorista. E estava em Orlando, nos Estados Unidos, a mesma cidade para onde Bolsonaro foi um dia antes de terminar o seu mandato, com o objetivo de não passar a faixa presidencial para o seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Oministro Alexandre de Moraes, do STF, entendeu que a invasão e destruição nos prédios foi facilitada pela omissão de Torres e decretou a sua prisão preventiva, que será cumprida quando retornar ao país. O ministro também decretou o afastamento por 90 dias do governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), que é bolsonarista. Lula decretou a intervenção federal na segurança pública do DF até o final do mês, nomeando como interventor Ricardo Cappelli, secretário-executivo do Ministério da Justiça. Claro que são importantes para a investigação a versão de Torres sobre as acusações do ministro Moraes. Especialmente sobre a minuta de um decreto invalidando o resultado das eleições presidenciais. Mas de igual importância, e com uma boa possibilidade de se tornar fundamental, é o conhecimento que o ex-ministro tem de como essa história da invasão transitou no círculo íntimo de líderes ao redor de Bolsonaro. Além dos generais, fazem parte desse círculo os três filhos parlamentares do ex-presidente: Carlos, vereador do Rio, Flávio, senador do Rio de Janeiro, e Eduardo, deputado federal por São Paulo.  Os militares do círculo pessoal do ex-presidente estão ali pelo dinheiro.  Não tem nada a ver com ideologia. Os Generais do Bolsonaro se beneficiaram de uma portaria que ele assinou permitindo que os soldos recebidos nas Forças Armadas pudessem ser somados ao salário pago na função que ocuparam na administração federal. Antes, a soma era limitada ao teto salarial do funcionalismo público federal, ao redor de R$ 40 mil. A portaria permitiu que o teto fosse furado.

Oex-ministro Torres era um observador qualificado desse grupo, porque é policial e político. Ele começou a carreira policial como papiloscopista (identifica as pessoas pelas digitais) da Polícia Civil do Distrito Federal (PC-DF). Depois tornou-se delegado da Polícia Federal e trabalhou no combate ao crime organizado na Superintendência da PF em Boa Vista, capital de Roraima, uma região barra muito pesada. Trabalhei lá, fazendo reportagens, na década de 90, quando aconteceu o massacre de uma comunidade yanomami. Lembro que fiquei em um hotel nas proximidades da Estátua do Garimpeiro. Atrás do hotel há uma ruazinha onde se localizavam todas as casas de compra e venda de ouro. Por ali transitava gente do mundo inteiro, falando vários idiomas, e muitos pilotos de pequenas aeronaves que faziam voos ilegais para os garimpos. Eram ótimas fontes de informação. Além de qualificado, Torres ocupava um lugar importantíssimo no projeto de governo de Bolsonaro, o Ministério da Justiça, que comanda a PF. Olhe, não é segredo para ninguém que o projeto de governo do ex-presidente era dar um golpe de estado ou fazer alguma coisa semelhante que lhe garantisse a permanência no poder pelo tempo que bem entendesse. Ele tentou várias vezes, fracassou em toda elas, deu meia-volta, reagrupou os seus seguidores e tentou novamente. Lembrei várias vezes que não acreditava que, caso ele perdesse a reeleição, tentasse fazer no Brasil o que seu ídolo, o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump (republicano), fez em 6 de janeiro de 2021, incentivando os seus seguidores a invadirem o Capitólio, o congresso americano. O que aconteceu no domingo (08/01) em Brasília foi semelhante ao que houve nos Estados Unidos. A minha descrença na ocasião tinha a ver com o fato de que se Bolsonaro se envolvesse em um caso muito ruidoso, como foram os atos terroristas na capital federal, acabaria prejudicando a carreira dos filhos parlamentares. E comprometendo de maneira muito séria as suas chances de voltar à Presidência da República nas próximas eleições.

De maneira automática, o nome de Bolsonaro apareceu como um dos responsáveis pelo ato terrorista porque durante todo o seu mandato ele não fez outra coisa que não fosse tentar dar um golpe. Uma pesquisa da Datafolha apontou que 93% dos brasileiros desaprovaram o ato terrorista dos bolsonaristas em Brasília. Lembro que em 31 de dezembro de 2021 escrevi o post A desbolsonarização do Brasil será um processo longo e cheio de surpresas. Pelo visto, cometi mais um erro de avaliação, porque os acontecimentos de Brasília aceleraram esse processo. O que significa a desbolsonarização acontecerá com maior rapidez. Me arrisco a dizer que se o ex-presidente sair à rua, a possibilidade de ser vaiado é real.




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