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Opinião

Bolsonaro usa a estada nos EUA para conspirar contra a democracia no Brasil

Que influência as invasões de Brasília terão no destino de Bolsonaro?

Publicada em 10/01/2023 às 07:56h

Carlos Wagner


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Marina
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Bolsonaro usa a estada nos EUA para conspirar contra a democracia no Brasil
 (Foto: Reprodução Web)

agora? O que irá fazer o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)? Durante o seu mandato, nos últimos quatro anos, ficou enchendo a cabeça dos seus seguidores com bravatas, teorias da conspiração e fake news sobre um golpe de estado. Eles acabaram acreditando e no domingo arregaçaram as mangas e foram à luta, invadindo e destruindo tudo que encontraram pela frente nos prédios do Congresso, no Palácio do Planalto, no Supremo Tribunal Federal (STF) e pelas ruas e avenidas de Brasília (DF). Em Orlando, cidade americana onde se refugiou para não passar a faixa presidencial para o sucessor Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Bolsonaro negou que tenha qualquer ligação com o quebra-quebra. Até as pedras das ruas e avenidas das cidades brasileiras sabem que o ex-presidente mente. Usando um linguajar dos pilotos de avião, durante uma viagem há um ponto no percurso de onde ainda se pode retornar para o aeroporto de partida. Depois, só é possível seguir em frente. O que aconteceu em Brasília no domingo (8/01) significa que o ex-presidente passou o ponto de retorno. Agora vai ter que seguir em frente, apostando no radicalismo para voltar ao poder.

O real impacto causado pelo ataque de bolsonaristas em Brasília saberemos no decorrer da semana, com o resultado das perícias que serão feitas nos prédios atacados. De imediato, 300 manifestantes foram presos, o ministro do STF Alexandre de Moraes afastou do cargo, por 90 dias, o governador do DF e aliado do ex-presidente, Ibaneis Rocha, e o presidente Lula decretou intervenção federal até o final do mês na segurança pública do DF. O responsável pela segurança era o governador, que agora terá 90 dias para explicar o que aconteceu. A imprensa brasileira e a estrangeira estão fazendo um trabalho bem completo do episódio. Vou chamar a atenção dos meus colegas para um aspecto desse acontecimento que merece ser melhor iluminado. Trata-se do seguinte. No final do ano, logo depois que Bolsonaro embarcou no avião presidencial e rumou para os Estados Unidos, assumiu o governo o seu vice, Hamilton Mourão. General da reserva do Exército, Mourão aguentou calado as humilhações, que não foram poucas, feitas por Bolsonaro e os seus três filhos parlamentares: Carlos, vereador do Rio, Flávio, senador do Rio de Janeiro, e Eduardo, deputado federal por São Paulo. Assim que assumiu a Presidência, Mourão falou em cadeia de rádio e TV para o país. Sem citar nomes, ele condenou o presidente por ter fugido para os Estados Unidos e usado o prestígio das Forças Armadas para se manter no poder. O vereador Carlos Bolsonaro chamou o general de “bosta” nas redes sociais. Ele respondeu dizendo que “não entro em pântano nem me rebaixo”.

O fato é o seguinte. Mourão é novo na política. Teve a sorte de se eleger vice-presidente na chapa de Bolsonaro, em 2018. E conseguiu, nas últimas eleições, usando o prestígio do então presidente, se eleger senador pelo Rio Grande do Sul. Mas para se manter na carreira política ele precisa tirar uma fatia do eleitorado do ex-presidente, que é capitão reformado do Exército e tem como base eleitoral as famílias dos militares das Forças Armadas, os militares de pijamas saudosistas do golpe militar de 1964 e uma parcela significativa da direita. Enquanto era presidente, Bolsonaro sempre navegou com tranquilidade entre o lado moderado da sua base eleitoral e o radical, os chamados bolsonaristas raiz. Agora isso acabou e vai precisar cada vez mais ser radical para se manter na disputa política. Mourão espera ocupar o lugar de Bolsonaro entre os moderados. Há outra história que nós jornalistas precisamos esclarecer. O ex-presidente entrou nos Estados Unidos como presidente do Brasil. Hoje, qual é o seu status? Na noite de domingo, parlamentares democratas americanos se manifestaram contrários à permanência de Bolsonaro nos Estados Unidos. Lembramos que ele é seguidor do ex-presidente americano Donald Trump (republicano), que perdeu a reeleição para Joe Biden (democrata). Na época, Trump inventou a história de que as eleições americanas tinham sido fraudadas. E, por conta disso, incentivou, em 6 de janeiro de 2021, os seus seguidores a invadir o Capitólio, o Congresso americano. Bolsonaro fez o desaforo para Biden de não reconhecer a sua eleição. Ele também fez desaforos para outros líderes mundiais, como o presidente da França, Emmauel Macron, e o da China, Xi Jinping, justamente o maior cliente do agronegócio brasileiro. O que aconteceu em Brasília no domingo repercutiu ao redor do mundo. E vários presidentes, como Biden, se solidarizaram com o governo do Brasil. Se a ideia dos parlamentares americanos de expulsar o ex-presidente do território americano prosperar, vai ser uma humilhação para ele e uma ajuda para Mourão ocupar espaço na base eleitoral de Bolsonaro.

Esse é um lado dessa moeda chamada jogo político, onde não existem espaços vazios. Sempre que um líder cai, outro ocupa o espaço. Esse é o jogo. O que aconteceu em Brasília no domingo tem um enorme potencial de causar um dano eleitoral considerável para Bolsonaro. É exatamente essa a aposta de Mourão. Lembro que o fato de vários bolsonaristas raiz terem sido presos coloca um fim na imagem de impunidade que desfrutavam quando o ex-presidente ocupava o cargo. Essa situação também tem um potencial considerável de beneficiar a imagem internacional do ex-presidente do Brasil na extrema direita. Hoje ele é uma figura de destaque na extrema direita, que está em ascensão em vários cantos do mundo. O fato é o seguinte: o ex-presidente está usando a sua estada no território americano para conspirar contra a democracia brasileira. É simples assim, como dizia o seu ministro da Saúde, o general da ativa (na época) do Exército Eduardo Pazuello.




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