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Com Europa seguindo interesses dos EUA, Berlim sedia importante cúpula internacional de Defesa

Conferência de Segurança de Munique reúne líderes internacionais poucos dias antes do aniversário da guerra na Ucrânia

Publicada em 17/02/2023 às 08:29h

Brasil de Fato


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Marina
cresol

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A 59° edição da Conferência de Segurança de Munique será palco, nas palavras dos próprios organizadores, de uma "plataforma incomparável para debates de alto nível", mas nem todos estão convidados. O evento que começa nesta sexta-feira (17) e vai até o domingo (19) não terá nenhum participante do Irã ou da Rússia enquanto a guerra dos russos contra a Ucrânia se arrasta por quase um ano.

O evento nem sempre foi assim. Em 2007, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, usou o palco para afirmar que considerava "inaceitável" uma ordem mundial unipolar e também criticou o expansionismo da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). "A expansão da Otan não tem qualquer relação com a modernização da própria Aliança, nem com a garantia da segurança na Europa. Pelo contrário, representa uma provocação séria que reduz o nível de confiança mútua", destacou o presidente russo na ocasião.

Na edição de 2023 da Conferência de Segurança de Munique, contudo, nenhum russo será convidado como resposta à invasão da Ucrânia. A lista de presenças incluí nomes como o presidente da França, Emmanuel Macron, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, a vice-presidenta dos EUA, Kamala Harris, e o ex-chanceler chinês e membro do Politiburo Wang Yi.

Em entrevista ao Brasil de Fato, o professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Luís Fuccille destaca que a Conferência de Segurança de Munique foi criada no contexto da Guerra Fria para alinhar os países da Europa Ocidental, os EUA e o Canadá. O evento passa por reformulação após a queda do Muro de Berlim, mas "não deixa de continuar a representar até os dias atuais as preocupações, as percepções que incomodam em grande medida o Ocidente, estou falando principalmente o norte, os países centrais do norte ocidental, e, sobretudo, a Europa".

Em comunicado, o governo da França afirmou que Macron participará do evento para "garantir a derrota da Rússia" em sua guerra contra a Ucrânia. A postura francesa está alinhada com a Casa Branca, que alimenta sua indústria bélica com sucessivos envios de armas para a Ucrânia enfrentar a invasão russa. A Alemanha, que no começo do conflito evitou enviar armas para a guerra, anunciou recentemente o envio de seus tanques Leopard-2.

Fuccille destaca que embora seja inegável que a guerra "começa com uma violação da soberania" da Ucrânia, há problemas de ambos os lados e que o conflito não é "irracional". Diante da atual situação, todavia, o pesquisador afirma que a Europa está seguindo os interesses dos EUA de maneira irrefletida e não busca construir uma "saída negociada" para o conflito.

"A guerra não é um fim em si mesmo, ela tem um determinado objetivo. Na guerra você sempre tem que deixar uma porta entreaberta para uma saída para qualquer um dos lados, para o que eu chamo de saída honrosa", diz o professor da Unesp. "O que tem que ser feito é chamar esses atores para se sentar na mesa de negociações e tentar construir uma saída honrosa desejavelmente para ambos os lados."

China na mesa

Outro assunto de destaque no evento será a participação da China. Em editorial, o jornal estatal chinês Global Times afirmou que os EUA e a Otan buscam transformar a Conferência de Segurança de Munique em uma "reunião interna" do mundo ocidental e que a Europa e a China tem uma "ampla convergência de interesses" apesar das tentativas dos EUA de "semear a discórdia".

Próxima da Rússia, a China também não deve conseguir avanços diplomáticos pela paz no evento, acredita Fuccille, porque os EUA não irão aceitar uma mediação de Pequim — e também porque os chineses se beneficiam do petróleo com desconto que compram dos russos, que têm dificuldade de acessar o mercado internacional por conta das sanções ocidentais. Além disso, a diplomacia chinesa também precisa administrar seus crescentes conflitos com os EUA.

"Pequim não atuará como porta-voz de Moscou mas, sem dúvida alguma, Pequim e Moscou têm uma aliança bastante estreita. Tampouco é aquela aliança sem limites anunciada no passado recente, obviamente que ela tem limites, a China pode de certa forma fazer um trabalho de auscultação nesse contexto dominado pelos países ocidentais sobre o que Ocidente está pensando, em especial sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia", avalia o professor da Unesp.




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