O 20º Congresso Nacional do Partido Comunista da China (PCCh) teve início na manhã deste domingo (16) no Grande Salão do Povo em Pequim.
O evento iniciou com um "tapete vermelho" pelo qual passaram alguns dos 2.296 delegados e delegadas que participam da atividade, para uma coletiva de imprensa. As entrevistas mostraram a diversidade dos delegados que representam os mais de 96 milhões de integrantes do PCCh e são responsáveis por debater e tomar importantes decisões nos próximos dias.
No primeiro trio de entrevistados, estavam Zhu Youyong, um renomado acadêmico da Academia Chinesa de Engenharia, que com mais de 60 anos se mudou para o condado autônomo de Lancang Lahu, na província de Yunnan, para ajudar os moradores a implementar avanços em técnicas agrícolas. O papel cumprido nas políticas de alívio da pobreza foi um dos critérios para a escolha dos delegados neste congresso.
Ao lado do fitopatologista, estavam a taikonauta Wang Yaping, segunda mulher chinesa no espaço e primeira mulher chinesa a realizar uma caminhada espacial, e o atleta Wu Dajing, medalha de ouro nas finais de patinação de velocidade em pista curta, nos Jogos Olímpicos de Inverno deste ano.
Outra das delegadas a conversar com a imprensa foi Zuliyati Simayi, professora e reitora da Escola de Marxismo da Universidade de Xinjiang. A Região Autônoma Uigur de Xinjiang é a maior província em termos de território da China e vem sendo objeto de denúncias de supostas violações de direitos humanos, por parte dos Estados Unidos. "Muitas vezes, por ocasião do Conselho de Direitos Humanos da ONU, eu contei histórias da verdadeira Xinjiang para combater esses rumores maliciosos e o descrédito sobre Xinjiang", disse a professora.
"Na última década, o PIB anual de Xinjiang dobrou e a renda disponível per capita teve um crescimento semelhante, com ambos atingindo recordes (...) para muitos, esses dados podem parecer abstratos, mas para mim, que cresci em Xinjiang, essas foram mudanças tangíveis na região", contou Zuliyati. O Conselho de Direitos Humanos da ONU acaba de rejeitar, por 19 votos a 17, uma moção promovida pelos Estados Unidos sobre a região. O coletivo Qiao elaborou um relatório sobre a província que pode ser acessado aqui.
Defesa da soberania e reunificação
A China vê as denúncias de supostas violações de direitos humanos como pretexto para intromissão em assuntos internos. A crítica à ingerência externa na China foi um dos pontos enfatizados no discurso de abertura do congresso, de quase 2 horas, de Xi Jinping, presidente chinês e secretário-geral do Partido.
Nesse sentido, o presidente chinês reafirmou o posicionamento que vem manifestando nos últimos anos em relação à "reunificação pacífica" com Taiwan: "Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica com a maior sinceridade e o máximo esforço, mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força e nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias. Isso é direcionado apenas à interferência de forças externas e os poucos separatistas que buscam a 'independência de Taiwan' e suas atividades separatistas; não é de forma alguma direcionado aos nossos compatriotas de Taiwan".
Acredita-se que a reunificação faça parte da Meta do Segundo Centenário, referente ao centenário da fundação da República Popular da China em 2049. O primeiro foi o centenário da fundação do PCCh, que aconteceu em 2021, e visava a construção de uma sociedade moderadamente próspera em todos os aspectos. A segunda meta centenária visa construir um "país socialista moderno próspero, forte, democrático, culturalmente avançado e harmonioso até 2049".
Erradicação da extrema pobreza e combate à desigualdade
Entre os grandes três acontecimentos que Xi Jinping escolheu para caracterizar a última década na China esteve a erradicação da extrema pobreza, além do próprio centenário do PCCh e da entrada da China em uma nova era do socialismo com características chinesas.
"Identificamos a principal contradição que a sociedade chinesa enfrenta como o equilíbrio entre o desenvolvimento adequado e a necessidade cada vez maior das pessoas por uma vida melhor, e deixamos claro que fechar essa lacuna deve ser o foco de todas as nossas iniciativas", afirmou o presidente em seu discurso.
Ainda em relação ao combate à pobreza, Xi afirmou a necessidade de continuar promovendo a "revitalização rural em todos os aspectos". "A China continuará a colocar o desenvolvimento agrícola e rural em primeiro lugar, consolidar e expandir as conquistas no alívio da pobreza e reforçar as bases para a segurança alimentar em todas as frentes".
Como parte das metas relacionadas ao princípio de Prosperidade Comum, Xi também prometeu: "aumentaremos a renda das pessoas de baixa renda e expandiremos o tamanho do grupo de renda média". Ainda em relação a esse princípio, o mandatário afirmou que o PCCh trabalhará "arduamente" para “elevar os padrões de serviço público e tornar os serviços públicos mais equilibrados e acessíveis”.
O presidente chinês ainda abordou um dos principais problemas atuais na economia chinesa, o emprego juvenil que se encontra atualmente em 18,7%. "Implementaremos a estratégia de Emprego em Primeiro Lugar, intensificaremos os esforços para implementar a política de emprego em primeiro lugar, aperfeiçoaremos o sistema de serviço público para gerar empregos e faremos mais para ajudar aqueles que estão em dificuldade a encontrar emprego e atender às suas necessidades básicas".
"O marxismo funciona"
Assim como em discursos anteriores, já como mandatário, Xi Jinping defendeu o marxismo como "a ideologia orientadora fundamental sobre a qual nosso Partido e nosso país são fundados e prosperam".
"A nossa experiência ensinou-nos que, ao nível fundamental, devemos o sucesso do nosso Partido e do socialismo com características chinesas ao facto de o marxismo funcionar, sobretudo quando adaptado ao contexto chinês e às necessidades do nosso tempo", disse o secretário-geral do PCCh.
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Destacando o combate à corrupção no Partido, no Estado e no Exército, Xi afirmou que o Partido "encontrou uma resposta para a questão de como escapar do ciclo histórico de ascensão e queda". "A resposta é a auto-reforma. Garantimos que o Partido nunca mudará sua natureza, sua convicção ou seu caráter".
Xi defendeu o enriquecimento e desenvolvimento do Pensamento sobre o Socialismo com Características Chinesas para uma Nova Era, apresentado no último congresso.
"Para defender e desenvolver o marxismo, devemos integrá-lo às realidades específicas da China", argumenta o relatório apresentado na abertura do 20° Congresso do PCCh, e que certamente será uma das tarefas que terão os delegados nesta semana de trabalhos que finalizará no dia 22 de outubro.