Nesta segunda-feira (10), movimentos populares do Haiti convocam uma jornada de manifestações nacionais até a próxima segunda (17) para denunciar a crise política que o país atravessa e rechaçar o envio de mais tropas militares do exterior. Sob o lema "abaixo Ariel Henry, abaixo ocupação", as organizações políticas de oposição afirmam que o governo do primeiro-ministro "está cada vez mais debilitado".
Na última semana correu a notícia de que Ariel Henry teria renunciado ao cargo. Em comunicado oficial, o gabinete do primeiro-ministro haitiano desmentiu o rumor, dizendo que "são estratégias de fabricações, intoxicações, orquestradas por indivíduos mal intencionados, com o objetivo de semear mais confusão".
O premiê Henry também solicitou à Organização das Nações Unidas (ONU) que aprovem o envio de mais tropas militares estrangeiras para retomar o controle do portos e aeroportos e estabilizar a oferta de serviços básicos em todo o país.
Na última quinta-feira (6), o Conselho de Ministros autorizou o premiê a "solicitar e obter apoio efetivo dos parceiros internacionais do Haiti por meio do envio imediato de uma força armada especializada em quantidade suficiente para deter, em todo o território, a crise humanitária causada, entre outras coisas, pela insegurança resultante das ações criminosas das quadrilhas armadas e seus patrocinadores".
O principal porto haitiano, Varreux, foi tomado por facções criminosas em meados de setembro, comprometendo o envio de combustível para boa parte do território haitiano.
O porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, disse que o secretário geral do organismo está "preocupado" com a situação no Haiti, e insta a comunidade internacional e o Conselho de Segurança a considerarem urgentemente o pedido do governo haitiano para o envio de uma força armada internacional especializada, "para responder à crise humanitária, inclusive garantindo o livre fluxo de água, combustível, alimentos e suprimentos médicos dos principais portos e aeroportos para comunidades e instalações de saúde", dizem em comunicado publicado no domingo (9).
Além de Guterres, 19 países-membros da Organização dos Estados Americanos (OEA), liderados pelo Estados Unidos e Canadá, assinaram uma declaração apoiando o envio de tropas "para reforçar a Polícia Nacional do Haiti", ao mesmo tempo que defendem o "diálogo entre haitianos".
No domingo (9), haitianos residentes em Washington protestaram contra o apoio da Casa Branca ao que qualificaram como "regime repressor" e exigiram "deixem os haitianos decidir".
Em 2004 foi iniciada a Missão de Estabilização da ONU no Haiti (Minustah), sob comando do Brasil, com o objetivo de colocar fim à crise política no país. Em 18 anos de ocupação, as tropas estrangeiras contribuíram para disseminar a cólera no Haiti, que causou cerca de 30 mil mortos e 700 mil doentes. Entre 2005 e 2006, quando as tropas da ONU eram comandadas pelo general brasileiro Augusto Heleno, atual ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), cerca de 8 mil pessoas foram mortas somente na capital Porto Príncipe.
Surto de cólera
Além da instabilidade política, o Haiti vive um novo surto de cólera. Somente na primeira semana de novembro, foram confirmados 11 casos, sete falecidos, e 111 suspeitas de infecção, sendo 51 adolescentes menores de 19 anos. Há três anos, a doença havia sido controlada do país.
A chefe da missão da ONU no Haiti, Ulrika Richardson, declarou que foi aberto um corredor humanitário para abastecer a capital Porto Príncipe. "Sem combustível não há água limpa, sem água limpa haverá mais casos de cólera e será muito difícil conter esse surto", disse Richardson.