Neste domingo (7), Gustavo Petro e Francia Márquez assumiram a Presidência da Colômbia para os próximos quatro anos. O ato foi acompanhado por cerca de 200 mil pessoas na Praça Bolívar, no centro de Bogotá, onde fica a sede dos três poderes. "Vamos fazer uma Colômbia mais igualitária para todos", disse o novo governante ao tomar posse.
Já a vice-presidenta, Francia Márquez, assumiu o cargo diante do presidente. Ao fazer seu juramento, a advogada e ativista ambiental homenageou seus ancestrais e disse que irá trabalhar "até que a dignidade se torne costume".
Petro foi empossado pelo presidente do Senado, Roy Barreras, do Partido Liberal, que colocou um broche de pomba na faixa presidencial de Petro "simbolizando a paz total".
"É uma quebra histórica. Na Colômbia, a mobilização social se transformou em poder, graças à paz e apesar da guerra. O triunfo de Petro mostra que a violência política não tem nenhum objetivo.
Barreras ainda reiterou que "há uma pátria disposta a renascer para compartilhar um destino comum junto às outras nações irmãs latino-americanas".
A cerimônia foi adaptada atendendo pedidos dos novos chefes de Estado, que não quiseram tapete vermelho para entrar no Congresso. Eles também incluíram a espada do libertador da América Latina, Simón Bolivar, marcando os 203 anos da independência do país, que também é celebrada neste 7 de agosto.
Ainda houve a presença de líderes sociais da região do Pacífico, como convidados de honra, e a transmissão de um vídeo contando a história das vítimas do conflito armado colombiano.
:: Novo Congresso da Colômbia assume com presidência alinhada ao governo de Gustavo Petro ::
Além dos convidados internacionais, os ex-presidentes colombianos Cesar Gaviria (1990-1994), Ernesto Samper (1994 -1998) e Juan Manuel Santos (2010-2018) também participaram da cerimônia. O operativo de segurança envolveu cerca de 15 mil policiais.
Reforma tributária e fome zero
No seu discurso de posse, o novo presidente destacou alguns projetos que já havia anunciado durante campanha, como uma reforma tributária para aumentar os impostos sobre os mais ricos; a implementação integral dos Acordos de Paz, assinados em 2016; e uma política exterior que priorize as relações com os vizinhos latino-americanos.
Petro classificou a desigualdade social como uma aberração e destacou que pretende levar adiante um projeto que "zere a fome no país". Para isso convocou à unidade nacional. "Vamos construir um acordo nacional que garanta uma nova Colômbia. Não ficarei preso nas cortinas da burocracia", afirmou.
Paz total
Uma das promessas centrais do novo governo é garantir a "paz total" da Colômbia, retomando as negociações com o Exército de Libertação Nacional, implementando os Acordos de Paz de 2016 e promovendo diálogos de paz e estruturas de reparação de vítimas a nível local.
O novo mandatário prometeu seguir "à risca" as recomendações da Comissão da Verdade, que entregou seu relatório final no último mês, denunciando que as cinco décadas de conflito provocaram 800 mil mortos.
"Não podemos seguir no país da morte, temos que construir o país da vida. Trabalharemos de maneira incansável para levar paz e tranquilidade a cada canto da Colômbia. Para que a paz seja possível precisamos dialogar", declarou.
O chefe da Missão de paz da ONU na Colômbia, Carlos Ruiz Massieu, disse estar otimista com o novo presidente colombiano.
"É uma mudança importante, particularmente para a paz, de resgatar e acelerar a implementação do Acordo nas áreas que são transformadoras e que necessitam maior incentivo, como a reforma rural, a reforma política e a segurança nos territórios, com a presença do Estado e combate à desigualdade, comuns nas áreas afetadas pelo conflito", declarou a meios locais.
Política de drogas
Petro destacou que pretende implementar uma nova política antidrogas. Em reunião com representante de segurança nacional da Casa Branca, na última semana, o novo presidente destacou que pretende rever acordos de extradição de narcotraficantes aos Estados Unidos.
"É hora de uma nova convenção internacional que aceite que a guerra contra as drogas fracassou de maneira rotunda. Deixou um milhão de latino-americanos assassinados, a maioria colombianos, nos últimos 70 anos", disse.
Reuniões oficiais
Antes da posse, Petro reuniu-se com o presidente argentino, Alberto Fernández, e com o boliviano, Luis Arce.
"Reafirmei meu compromisso de seguir apoiando a paz no seu país, necessitamos uma Colômbia ativa no caminho da integração latino-americana", disse Fernández, que destacou ainda interesse bilateral no setor alimentício, automotriz, agrícola, farmacêutico e de serviços, em geral.
Arce também destacou os interesses em aumentar a cooperação entre a Bolívia e a Colômbia. "Temos muito por percorrer, como dois povos irmãos dispostos a avançar na nova rota para fortalecer relações comerciais e na defesa do meio ambiente", pontuou.
Acompanhado da vice, Francia Márquez, Petro também dialogou com o secretário executivo interino da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), Mario Cimoli.
"Conversamos sobre transição energética e política industrial. Agradecemos sua disposição para fortalecer a produção, a sustentabilidade e garantir a inclusão produtiva na Colômbia e na região", publicou Francia.
Gabinete
Do total de 18 ministros, Gustavo Petro já indicou 14 nomes. Neste domingo, anunciou outros quatro integrantes do alto escalão, entre eles, a geógrafa Irene Vélez para o Ministério de Minas e Energia.
A ex-atleta e campeã olímpica de levantamento de peso Maria Isabel Urrutía será a ministra do Esporte. Urrutía foi congressista de 2002 a 2010.
Confirmando as expectativas, o principal assessor de campanha de Petro, Alfonso Prada, será ministro do Interior.
Já o Ministério do Trabalho ficará a cargo do Partido Comunista, com a ex- senadora Gloria Ramírez.