Publicado nesta quinta-feira (28), estudo realizado por Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e Banco Mundial aponta perda de R$ 88,9 bilhões por danos da enchente, pouco acima do que havia antecipado o presidente do BID, Ilan Goldfajn.
O que há de novo é o detalhamento dos efeitos: 69% (R$ 61,2 bilhões) das perdas ocorreram no setor produtivo (agropecuária, comércio, indústria, alojamento e restaurantes); 21% (R$ 19 bilhões) na área social (educação, habitação, saúde e cultura); 8% (R$ 7 bilhões) em infraestrutura (água potável e saneamento, transporte e setor elétrico); e 1,8% (R$ 1,6 bilhão) no meio ambiente. Ao todo, 13 áreas foram analisadas.
O cálculo inclui apenas prejuízo aos ativos de cada segmento afetado, bens e serviços que deixaram de ser fornecidos e despesas adicionais dos setores público e privado para apoio à população atingida.
O relatório, produzido com fórmula reconhecida internacionalmente, teve participação de equipe técnica de cerca de 40 profissionais. As despesas com viagem, estada no RS e trabalho envolvido no cálculo foram arcadas por bancos internacionais.
O documento traz recomendações com foco na reconstrução resiliente e o impacto da enchente na redução do PIB do Estado, estimada em 1,3%. Isso significa, conforme o estudo, que a economia gaúcha vai crescer 4,7% neste ano, ante os 6% que eram esperados antes da enxurrada. A queda é menor do que as primeiras projeções coletadas pela coluna.
Se não houvesse destinação de recursos de governos federal, estadual e municipais, conforme o relatório, o efeito seria quase duplicado, de perda de 2,4% no PIB. Ou seja, o estudo aponta que as ações reduziram o impacto da enchente em 1,1 ponto percentual.
Ainda segundo o documento, o setor privado absorveu 78% dos custos da enchente, enquanto o setor público assumiu 89% dos custos adicionais de suporte à população. Um pacote de R$ 5,5 bilhões, incluindo R$ 1,5 bilhão em contratos liberados nos seis meses posteriores à enxurrada, já foi disponibilizado pelo BID em apoio ao Estado.
Recomendações para estrutura resiliente
Curto prazo
-Priorizar a reconstrução de estruturas integrando medidas para melhorar a resiliência às inundações, por exemplo, diques com altura consistente e sistema de bombeamento, sobretudo tendo em vista a estação chuvosa de 2025.
-Projeto e construção de obras de controle de inundações para proteger a população localizada em áreas de risco mitigável.
-Melhorar os sistemas de alerta precoce e de gestão de emergência.
-Projetar ações de reconstrução que também maximizem a criação de empregos, sobretudo para as populações mais vulneráveis.
-Definir regiões onde residências não deveriam voltar a ser construídas.
-Formalizar um órgão técnico-científico estadual para identificação de riscos de desastres.
Médio e longo prazos
-Manter a gestão de riscos como política pública de longo prazo e formalizar um órgão técnico-científico para identificação de riscos.
-Fortalecer a coordenação entre órgãos de diferentes esferas de governo e diferentes municípios com foco na gestão de risco.
-Atualizar planos diretores incluindo modelagens climáticas e considerando a possibilidade de que a infraestrutura possa ser sobrecarregada em caso de inundação.