Um sistema de inteligência artificial (IA) contratado pela Prefeitura de Porto Alegre identificou ao menos 2,6 mil buracos nas ruas da capital em um mês de monitoramento. A ferramenta foi instalada em carros de aplicativo, que circulam pela cidade enquanto as vias passam pela vistoria do "olho eletrônico".
Ao todo, 30 carros foram equipados com as câmeras na parte superior, que filmam os buracos e a localização exata de cada um. Conforme o veículo anda e registra as imagens, a inteligência artificial "lê" os dados em tempo real, reconhece padrões da via (como placas e sinalização) e identifica as imperfeições na pista, como buracos, tricas, desníveis, lombadas sem pinturas e bueiros.
— À medida que eles vão passando pelo pavimento, vai dando uma qualidade para a via. A importância desse sistema é que ele pode vir a mudar: uma rua que está em estado "ótimo" pode ser que, no mês seguinte, um outro carro que passe por lá, e ela acabe caindo em sua classificação — explica Marcos Felipi Garcia, secretário municipal de Serviços Urbanos.
O sistema tem um custo de R$ 2,85 milhões por ano, em um contrato com validade inicial de dois anos.
Avaliação das vias
Os dados captados pela ferramenta são enviados para a prefeitura, que analisa qual a intervenção necessária em determinado trecho. Dos 3,4 mil km de vias em Porto Alegre, 49,57% já têm informações coletadas pelo sistema.
Segundo a prefeitura, a maioria obteve nível de classificação ótimo e bom. Outros 26% receberam a classificação ruim e péssima.
José Silva, 74 anos, trabalha com tele-entrega para uma farmácia na Zona Norte de Porto Alegre. Para ele, andar sobre duas rodas se transformou em um verdadeiro desafio em algumas ruas da região, justamente por causa dos buracos.
—Isso é horrível, eu mesmo enfrento isso aí dia a dia. Às vezes, eu jogo essa bicicleta aqui, quase que eu perdi um aro e um pneu junto— diz.
Moradores reclamam dos buracos
Na Rua Luiz Felipe Zamprogna, no Bairro Humaitá, os moradores dizem que motoristas de aplicativo evitam fazer corridas pela região.
— A maioria recusa, não entra, fica lá. A gente tem que correr até ali para pegar. Às vezes, demora muito. Como a gente mora no fundo, eles vão embora. Ambulância, mesmo se precisar, não entra — fala Paula Adriana Rosa de Souza, que trabalha como recicladora.
Já na Avenida Soledade, no Bairro Petrópolis, o asfalto se desgastou em alguns trechos, causando problemas para quem transita pela via.
— Estão sempre remendando, é bem complicado assim. Tu tem que ter um carro muito bom para andar aqui nessas ruas de Porto Alegre — reclama o corretor de imóveis Matheus Braga.