O primeiro mutirão do projeto Pintura Solidária - Colorindo Vidas, da ONG Misturaí em parceria com a Associação Beneficente Cultural e Esportiva dos Ferroviários (ABCEFER – Projeto das Marias), ocorreu neste final de semana. A ação propõe pintar 150 casas atingidas pela enchente na Vila dos Ferroviários, Vila Arco Íris, Vila Santo Antônio e Vila Campos Verdes, no bairro Humaitá, em Porto Alegre. Entre o sábado (19) e o domingo (20), três residências foram pintadas por um total de 35 voluntários e outras 15 receberam os materiais para que as próprias famílias realizem o trabalho.
Os recursos para compra dos utensílios, segundo o gestor de Projetos da Misturaí, Pedro Souza, vieram do que foi arrecadado pelo Festival Sou do Sul para a reconstrução do Estado.
— Já a mão de obra é de voluntários e da própria comunidade. Fizemos um levantamento e priorizamos no mutirão as casas de pessoas mais velhas ou em uma situação que dificultasse para elas mesmas fazerem esse trabalho — conta Souza.
Ele destaca ainda a necessidade de mais voluntários para compor os outros mutirões que serão feitos para alcançar a meta de 150 residências revitalizadas. As novas ações devem ocorrer em novembro e dezembro, quando um evento deverá marcar a conclusão dos trabalhos.
Interessados em trabalhar voluntariamente podem entrar em contato através do Facebook, do Instagram ou do e-mail da ONG misturaipoa@gmail.com.
“Ficaria para depois”
Após ficar três meses fora de casa, a família da estudante Thais Silva, 32 anos, tinha uma lista de prioridades para recompor o próprio lar, na Vila dos Ferroviários. À família, composta por ela, o pai, 67, a mãe, 70, e a avó, 93, todos aposentados, sobrou apenas uma mesa, um armário e uma cadeira que não foram afetados pela enchente de maio. A casa resistiu à água que chegou a dois metros de altura porque era de alvenaria, reflete Thais.
Foram as doações e os auxílios do governo estadual e federal que ajudaram a família a retomar parte do que foi perdido. Apesar disso, a pintura da casa “ficaria para depois”.
— Eu estou desempregada e com a aposentadoria deles não conseguiríamos fazer isso agora. Então, é muito satisfatório receber essa ajuda — diz ela sobre a própria casa, onde cerca de 10 voluntários trabalharam na pintura ao longo do final de semana.
A visão é semelhante à da presidente da ABCEFER, Daiane Germany. Morando há 40 anos na região, que já havia sofrido com outros alagamentos, ela frisa que nunca haviam passado por algo com a dimensão da enchente de maio.
Além das perdas de móveis e eletrodomésticos, muitas casas tiveram prejuízo estrutural e muitos moradores perderam também os empregos.
— A comunidade perdeu tudo. Tem muito trabalho para se fazer. Então, é gratificante ver o colorido nas casas de novo. Parece que a enchente tinha deixado tudo sem vida e, agora, a gente consegue ver esperança de novo — afirma Daiane.