O debate com os candidatos que disputam o comando do terceiro maior colégio eleitoral do Rio Grande do Sul foi marcado por trocas de ataques e algumas discussões mais acaloradas. Realizado por Rádio Gaúcha e GZH nesta segunda-feira (16), o confronto de ideias entre os seis concorrentes à prefeitura de Canoas teve a reconstrução da cidade após a enchente como tema central, mas com poucas propostas efetivas para reerguer o município.

Antes do começo do programa, um momento de descontração. Com todos já no estúdio, a apresentadora Andressa Xavier brincou — mas com uma mensagem nas entrelinhas — que as cadeiras do estúdio estavam coladas no chão para evitar intercorrências como no debate à prefeitura de São Paulo, no domingo (15), quando Pablo Marçal foi agredido por José Luiz Datena. Os candidatos sorriram, mas logo retomaram o semblante de seriedade quando as luzes do estúdio da RBS TV acenderam e o debate começou.

Desde as primeiras manifestações ficou claro que o atual prefeito, Jairo Jorge (PSD), seria um alvo a ser mirado, direta e indiretamente, pelos outros candidatos. Os principais temas abordados foram o afastamento de Jairo por suspeita de fraude em contratos com empresas terceirizadas de limpeza e copeiragem, a enchente de maio e o sistema de saúde. Habitação e transporte público também permearam a troca de ideias.

Candidatos que estiveram juntos no passado, Jairo, Beth Colombo (Republicanos) e Airton Souza (PL) não entraram em um embate direto durante as quase duas horas de programa.

Os tons mais incisivos partiram de Márcio Freitas (PRD), vereador mais votado há quatro anos, e Campiol (Novo), que se apresentaram como os verdadeiros opositores da atual gestão. Rodrigo Cebola (PSOL), ex-secretário de Jairo, adotou postura mais neutra, evitando maiores polêmicas.

Depois de apresentações iniciais, os candidatos responderam a perguntas sorteadas. Ainda que os questionamentos pré-estabelecidos delimitassem as respostas, alfinetadas foram disparadas. Airton Souza falou sobre habitação e desenvolvimento urbano.

— Temos a proposta de construir 6 mil residências para socorrer e dar suporte às pessoas que passaram por essa tragédia (da enchente) — prometeu.

A participação de Beth Colombo versou sobre o transporte público da cidade e o subsídio para diminuir o valor das passagens.

— O subsídio é importante. Sé há subsídio (federal) para o Trensurb, será necessário subsidiar a empresa que aceitar participar da licitação. A cidade precisa rever toda a sua situação viária. O que temos não pode continuar — avaliou.

Em outro momento do confronto de ideias, Rodrigo Cebola disse que os ônibus da cidade são latas ambulantes, devido ao mau estado de conservação dos veículos.

No fechamento do bloco, Campiol discursou de maneira mais direta sobre a enchente e o sistema de proteção e diques do município.

— Há coisas que poderíamos fazer hoje e não estão sendo feitas, com retenção das valas, limpeza dos canais. Se enfrentarmos uma chuva semelhante, provavelmente acabaremos na mesma situação.

Os cerca de 60 passos que separam o estúdio e a sala onde os assessores assistiam ao programa foram percorridos em um pulo para que, no intervalo, pudessem orientar seus candidatos. Cada um levou o seu assessorado para um canto para traçar a estratégia para o segundo bloco, onde os pretendentes ao Paço Municipal canoense perguntaram entre si com temática livre.

O primeiro disparo contra Jairo foi de Márcio Freitas, ao abordar os afastamentos do adversário, que se defendeu citando que foi um dos políticos gaúchos mais investigados do RS. O duelo foi o mais quente do debate. Jairo se defendeu e contra-atacou ao citar um CC do gabinete de Márcio que teria ficha policial.

— Sou um dos políticos mais investigados do Rio Grande do Sul. Nenhuma denúncia foi aceita pela Justiça. Meu objetivo é olhar o futuro da cidade e pensar no que precisa ser feito — disse o candidato à reeleição.

O atual prefeito também listou uma série de medidas que estão estariam sendo feitas para proteger a cidade de uma nova enchente. Mais adiante, Márcio retomou o tema.

— O que ocorreu na cidade não foi uma surpresa. A responsabilidade de gerir a situação, com apoio do corpo técnico da prefeitura, era do prefeito Jairo Jorge — pontuou.

Questionado por Airton Souza sobre se o atual prefeito merece um novo mandato, Campiol foi direto.

— Acredito que não merece mais quatro anos, como não merecia os quatro anos anteriores. Mas o senhor (Airton Souza) também não merece a prefeitura — disparou.

Para fechar o bloco, Rodrigo Cebola foi questionado sobre a participação popular em sua gestão, caso seja eleito.

— Queremos criar um espaço de diálogo direto com a comunidade. Nosso compromisso é fortalecer os conselhos municipais de saúde e educação — explicou.

Ao todo, foram solicitados quatro direitos de resposta, mas somente um foi concedido. Jairo Jorge contestou informação de Campiol sobre a quantidade de mortos no Pronto Socorro da cidade durante a enchente.

No bloco final, os candidatos responderam a pergunta formuladas por comunicadores do Grupo RBS, sob o aviso de se aterem ao questionamento proposto. Responderam a questionamentos sobre saúde, economia, mobilidade urbana, segurança pública, meio ambiente e o projeto do aeromóvel.

Três blocos e 18 perguntas depois, os seis candidatos, no fim, posaram sorridentes para fotos, trocaram cumprimentos e seguiram para Canoas, pois ainda há votos para conquistar.