A enchente de maio de 2024 no Centro Histórico de Porto Alegre atingiu, oficialmente, o pico de 5m37cm no Cais Mauá nas proximidades da rodoviária. A medição oficial foi divulgada nesta terça-feira (3) pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB), quase quatro meses depois de o recorde ser atingido. A cota oficial é 2cm mais elevada do que o valor inicialmente estimado pelas autoridades para a mesma área de medição.
A marca de 5m37cm se refere ao ponto exato no Cais Mauá onde havia uma régua automática de medição do Guaíba sob gestão da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do governo do Estado. A régua foi levada pelas águas da enchente em 2 de maio, deixando a Capital sem dados oficiais da cheia e impedindo a observação direta do pico da cheia. Assim, para determinar o nível mais alto da cheia de 2024, os técnicos do SGB primeiro analisaram as marcas deixadas pela enchente nas edificações do Cais e, depois, mediram as marcações em relação a referenciais já conhecidos.
— No início da enchente, a gente perdeu a nossa principal fonte de monitoramento, que era a régua da estação da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, no Armazém C6 do Cais do Porto. Por isso, a gente fez medições indiretas. A gente foi nas paredes, vidraças, em qualquer lugar em que ficou registrado o nível máximo das águas, fez a marcação, e depois mediu isso em relação ao referencial que a gente tem. E o que a gente encontrou? O nível máximo foi na de 5m37cm no (ponto onde ficava a estação) C6 — detalha o chefe da Divisão de Hidrologia Aplicada do SGB, Emanuel Duarte Silva.
O relatório em que o SGB apresenta os níveis máximos observados durante a enchente de 2024 traz três dados. Além da medição no C6, os técnicos do órgão federal divulgaram a medição do pico da cheia no Pórtico Central do Cais e no Gasômetro. Como as águas do Guaíba ficam inclinadas em relação à cidade – comportamento que se agrava durante enchentes –, cada um dos números permite comparações com outros valores históricos.
A marca de 5m37cm pode, por exemplo, ser comparada com o pico das cheias de 2016 (2m65cm), de setembro de 2023 (3m18cm) e de novembro de 2023 (3m46cm). Estes dados mais recentes foram todos colhidos na estação de medição C6, destruída pela enchente.
No Pórtico Central do Cais Mauá, a enchente de maio de 2024 atingiu o pico de 5m12cm. É este número que serve de parâmetro para comparar a maior enchente da história de Porto Alegre com os marcos físicos que identificam os picos da cheia de 1941.
— As placas de medições da enchente de 1941 estão afixadas no Pórtico Central. A gente pode inferir que a cheia atual, de maio de 2024, naquele ponto, teve uma coluna de água 45cm maior do que a da enchente de 1941. Tem algo que temos que deixar bem claro: medições em lugares diferentes terão valores diferentes. Não se pode fazer comparações entre elas. Onde medimos os 5m37cm da enchente de 2024 não há qualquer marcação relativa à enchente de 1941 — acrescenta o chefe da Divisão de Hidrologia Aplicada do SGB.
A terceira medição do SGB divulgada no mesmo relatório se refere à régua de medição que foi instalada emergencialmente na altura da Usina do Gasômetro, depois de a régua C6 ser levada pela enchente de maio. Neste ponto, segundo o SGB, o pico do Guaíba na cheia de 2024 foi de 4m59cm.
A identificação exata do pico da cheia em cada ponto da Capital serve para definir os novos parâmetros de proteção da cidade e para balizar obras de engenharia.
A medição e a realização dos cálculos foram realizadas em parceria com o Exército Brasileiro e contaram com dupla verificação. A articulação passou pela Agência Nacional de Águas (ANA).