Desde o início da manhã desta quinta-feira (8), Porto Alegre recebe milhares de produtores rurais do Movimento SOS Agro, que reivindicam por medidas mais robustas do governo federal após a série de eventos climáticos extremos que atingiu o Rio Grande do Sul — setembro e novembro do ano passado e em maio deste ano. A manifestação teve início com tratores que ficaram dispostos próximo à Orla. De acordo com a organização, por volta das 10h já estavam presentes no ato cerca de 3 mil pessoas.
A cobrança de apoio aos produtores gaúchos é fomentada pela publicação da Medida Provisória (MP) no dia 31 de julho, que acena ajuda aos agricultores. O documento ficou aquém do esperado pelos produtores e por entidades representativas, como a Federação da Agricultura do Estado (Farsul).
Por volta das 10h, os agricultores e pecuaristas participaram de um ato na Casa do Gaúcho, no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho. Segundo a coordenadora do movimento, Graziele de Camargo, a MP publicada “não atende ninguém, é rasa e burocrática”.
— O objetivo desse movimento é fazer com que o produtor continue na atividade. Queremos nossa dignidade de volta. Queremos continuar com nossa missão que é colocar alimento na mesa das pessoas — salientou Graziele na abertura do encontro.
O presidente do Sistema Farsul, Gedeão Pereira, também destacou a burocracia do documento:
— O que vem é muito capenga, raso. Não nos satisfaz. O que não nos contenta é que a medida veio extremamente burocrática, difícil de acessar — disse Pereira.
Vindas de Cachoeira do Sul, município que deu início ao Movimento SOS Agro, Natasha Pedroso Alves, 25 anos, Gabrielly da Silveira Cavalheiro, 26, e Valesca Alves, 39, acompanharam o ato desta quinta.
— Tem várias situações no município de Cachoeira do Sul. Todos produtores estão sendo afetados, porque muitos não conseguiram colher e assim não têm como pagar as dívidas e isso gera questões de saúde. Temos produtores que estão fazendo acompanhamento psiquiátrico, porque no momento em que eles não têm produtividade, eles não têm renda para viver e para plantar novamente. Isso gera várias outras consequências — citou a pecuarista e agrônoma Gabrielly.
Pouco antes das 11h, o governador Eduardo Leite subiu ao palco e falou com os produtores. Ele mencionou a polarização do país e afirmou que o movimento não é partidário.
— Claro que temos visões diferentes, ideologias diferentes. Mas mais importante do que quem está neste palco é quem está aí embaixo, quem está na base, manifestando com toda legitimidade sua angústia e ansiedade — salientou, pedindo maior atenção do governo federal.
— Quanto mais o Rio Grande vai bem, mais o Brasil vai bem. Essa medida provisória nem de longe vai atender às demandas. Brasília tem optado sempre pelo caminho mais complicado. As regras são tão difíceis, burocratizadas, engessadas, que fica difícil acessar os recursos — acrescentou.
Em conversa com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, o presidente da Fetag, Carlos Joel da Silva, disse que foi pedido para que as entidades tenham acesso às próximas medidas antes da publicação para que os produtores possam analisar se as necessidades são de fato atendidas:
Leite diz que governo federal "ainda não apresentou soluções eficazes em relação à tragédia gaúcha"
— Ontem (quarta-feira) o ministro Paulo Teixeira me ligou, conversei longamente com ele. Nosso pedido foi: antes de ser anunciado, que apresentem para nós para ver se atende esses produtores. Ele disse que estão tratando disso e que nossos pontos serão observados — destacou Joel da Silva, acrescentando que cooperativas e produtores que não foram atingidos na última enchente também precisam ser atendidos, pois têm dívidas acumuladas de três anos de estiagem.
Prejuízos
Antes do início do ato na Casa do Gaúcho, Édio Della Vechia, 26 anos, agricultor de Triunfo, se reuniu com um grupo de colegas perto das máquinas agrícolas dispostas na Avenida Edvaldo Pereira Paiva. Ele conta que a perda na lavoura de soja em razão da enchente totaliza 100% e na de arroz de 20% a 30%.
— Nosso problema é com as promessas do governo. Todo mundo ficou esperando essa medida provisória e quando veio praticamente ninguém se enquadra no que diz a medida — observa o produtor.
Vindas de Cachoeira do Sul, município que deu início ao Movimento SOS Agro, Natasha Pedroso Alves, 25 anos, Gabrielly da Silveira Cavalheiro, 26, e Valesca Alves, 39, acompanharam o ato desta quinta.
— Tem várias situações no município de Cachoeira do Sul. Todos produtores estão sendo afetados, porque muitos não conseguiram colher e assim não conseguem pagar as dívidas e isso gera questões de saúde. Temos produtores que estão fazendo acompanhamento psiquiátrico, porque no momento em que eles não têm produtividade, eles não têm renda para viver e para plantar novamente. Isso gera várias outras consequências — citou a pecuarista e agrônoma Gabrielly.