Além dos danos estruturais e as dificuldades de adaptação dos alunos, as escolas atingidas pela enchente enfrentam um outro desafio: a perda de materiais didáticos. Livros, jogos, brinquedos e objetos utilizados em sala de aula foram levados pela água. Para auxiliar instituições que estão retomando as atividades, uma iniciativa da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Faced) está propondo produzir itens para doação às salas de aula.
O projeto, chamado de Didacoteca, é uma extensão do curso de Pedagogia e existe desde 2017. O foco são escolas de Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, com materiais que auxiliem no processo de alfabetização e introdução à matemática.
Classificados como recursos didáticos, servem como guias no aprendizado de estudantes que se encontram no estágio inicial de ensino. O grupo atua por conta própria, valendo-se apenas do trabalho manual e de alguns instrumentos de corte e plastificação.
A ideia de doar as produções surgiu em razão da calamidade. Antes disso, os professores e alunos bolsistas se dedicavam a produzir os itens e emprestar a professores que desejassem aplicar durante as aulas. Os empréstimos funcionam como em bibliotecas. Assim, é necessário fazer a devolução. Atualmente há um acervo de 400 materiais.
Ainda em maio, a coordenadora da Didacoteca, Sandra Andrade, e os demais membros pensaram que seria importante fazer uma arrecadação de materiais como livros, brinquedos, lápis e borrachas. Com a campanha em andamento, surgiu a necessidade de acrescentar outros recursos à entrega.
— Mandavam para nós os vídeos das escolas embaixo de água, as crianças que perderam todo o seu material escolar. Foi aí que pensamos em como ajudar mais. Iniciando a campanha, a gente se deu conta de que faltava o recurso, porque vinha livro, vinha material escolar, mas não vinham os recursos didáticos — conta a professora.
Quatro professoras e quatro estudantes trabalham na confecção de roletas ensinando o alfabeto, cartas introduzindo gêneros textuais, fichas com números de 0 a 9, entre outros. Serão cinco recursos inseridos em kits, que serão distribuídos às instituições. A produção deles segue em desenvolvimento, e devem ficar prontos para entrega em agosto.
Antes disso, uma feira com os demais materiais arrecadados pelas professoras ocorrerá na próxima quarta-feira (24). Nela, estarão diretores de 19 escolas atingidas, que se inscreveram para receber os donativos. A tendência é de que sejam as mesmas instituições agraciadas pelos kits.
— É preciso recuperar a autoestima dos alunos, a vontade de estar ali naquele ambiente da escola. E depois investir no pedagógico, no didático. Se a gente não tiver bons materiais, isso vai se tornar mais difícil. O nosso trabalho é uma gotinha no copo d'água — conclui Sandra.