As primeiras prisões realizadas após o roubo de R$ 30 milhões no aeroporto Hugo Cantergiani, em Caxias do Sul, praticamente confirmam o envolvimento do Primeiro Comando da Capital (PCC), maior facção criminosa do Brasil, no ataque. A quadrilha assaltou um avião-pagador carregado de malotes bancários. Pelo menos 10 assaltantes disfarçados de policiais federais agiram na noite de 19 de junho, num crime que resultou na morte do sargento da Brigada Militar Fabiano Oliveira e de um dos bandidos envolvidos. No veículo em que ficou abandonado o criminoso morto, foram recuperados cerca de R$ 15 milhões levados no ataque.
As primeiras pistas de envolvimento da organização paulista PCC surgiram ainda naquela noite. O assaltante morto, Sílvio Wilton da Costa, o Bin Laden, portava carteira de habilitação do Piauí, mas na realidade é um nordestino radicado em São Paulo e membro "batizado" do PCC. Velho frequentador de páginas policiais, ele teve prisão preventiva decretada por participação em dois roubos muito semelhantes ao realizado em Caxias do Sul: R$ 25 milhões subtraídos no aeroporto de Campinas, em março de 2018, e R$ 117 milhões em ouro, no aeroporto de Guarulhos, em julho de 2019. Nas duas ocasiões, bandidos com uniformes de forças de segurança realizaram os ataques, portando armas de guerra, como aconteceu em Caxias do Sul. Ele também teria participado de um ataque a uma base de transportadora de valores da Bahia.
Esses antecedentes de Bin Laden alertaram a força-tarefa montada para investigar o roubo em Caxias do Sul e formada por Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Civil e Brigada Militar, além de forças de segurança de outros Estados. A confirmação de que o roubo milionário na Serra gaúcha teve planejamento do PCC veio com a prisão de dois homens que trafegavam pela Rodovia Régis Bittencourt (trecho paulista da BR-116) um dia e meio após o assalto milionário no aeroporto caxiense. Os dois estavam num Honda Civic prateado que foi identificado, por câmeras de vigilância, como veículo usado na fuga da quadrilha que atacou o avião no aeroporto. Eles foram capturados próximo a Juquitiba, a cerca de 85 quilômetros de São Paulo.
Conforme o capitão Alexandre Guedes, porta-voz da PM paulista, os dois estavam em "atitude suspeita" e constavam, nos alertas do sistema de monitoramento da PF, como possíveis envolvidos no assalto em Caxias do Sul. Os dois presos em Juquitiba são Adriano Pereira de Souza, o Cigano, e Vinícius Araújo de Melo, ambos com vários antecedentes criminais.
Cigano é considerado um dos líderes do PCC em São Paulo. Conforme escutas telefônicas feitas pelo Seccold (Setor de Combate aos Crimes de Corrupção, Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro) da Polícia Civil paulista, obtidas pelo site UOL, Cigano era responsável por finanças da facção paulista e estava foragido da Justiça. Condenado por tráfico de drogas, ele responde a processo criminal por compra de pontos de tráfico em São José dos Campos (SP).
Em 2021, Cigano foi preso no Rio de Janeiro por repassar drogas e armas para o Terceiro Comando Puro (TCP), facção rival ao Comando Vermelho, que é o maior adversário nacional do PCC. Conforme as investigações da Polícia Civil paulista, Cigano negociou o fornecimento de armas e drogas com Álvaro Malaquias, o Peixão, líder do TCP.
Já Bin Laden, o morto no assalto em Caxias do Sul, era procurado por assaltos que teria cometido junto com um líder do PCC, Márcio do Carmo Pimentel, o Yan, que está foragido e já figurou na lista dos criminosos mais procurados do país, elaborada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. Ele tem 13 mandados de prisão em aberto. Ele é um dos expoentes do chamado "Novo Cangaço", quadrilhas que usam da tática de dominar cidades antes de cometer os assaltos, cortando energia elétrica, fazendo reféns e atacando postos policiais.
Outros dois homens foram presos por suposto envolvimento no mega-assalto em Caxias do Sul. Um deles, numa rodovia próxima a Curitiba (PR). Outro, em Torres (RS). A coluna não conseguiu detalhes sobre essas prisões. Mas a lista com os outros quatro supostos envolvidos no ataque ao aeroporto da serra gaúcha aponta que a maior facção brasileira decidiu renovar a aposta em roubos milionários. A suspeita é de que sejam para financiar fugas do sistema penitenciário.
O colunista não conseguiu contato com as defesas dos suspeitos.