A Polícia Civil indiciou nove pessoas e quatro CNPJs pela morte de animais ocorrida dentro de três lojas de pets durante a enchente em Porto Alegre. Os inquéritos se referem aos casos das lojas da Cobasi, nas avenidas Praia de Belas e Brasil, e da loja Bicharada, no centro da Capital. O indiciamento foi feito pela Lei de Crimes Ambientais, artigo 32, quando há morte de animais.
Segundo a investigação, foram nove pessoas indiciadas:
-a gerente regional (duas vezes) da Cobasi
-a responsável técnica (duas vezes) da Cobasi
-duas gerentes da unidade Praia de Belas da Cobasi
-três gerentes da Avenida Brasil da Cobasi
-na Bicharada, foram dois responsáveis indiciados
— Elas deveriam ter tomado essa decisão (de remover), seja no início, antes de alagar. Inclusive temos vídeo da gerente fechando essa loja às 20h olhando para o subsolo, onde não tinha mais nenhum carro — disse a delegada Samieh Saleh, responsável pela Delegacia do Meio Ambiente do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), ao afirmar que poderia haver conhecimento da possibilidade de alagamento.
—Nós identificamos que tanto as gerentes locais, como a regional, que é localizada lá em São Paulo, tinham o dever e poderiam agir para salvar esses animais e nada fizeram para isso. Antes do alagamento, poderiam ter tomado uma decisão tendo em vista que foi amplamente em todas as redes sociais, na mídia, imprensa, TV, que seria a maior enchente e que assolaria Porto Alegre e mesmo assim mantiveram animais lá — afirmou Saleh.
Ainda sobre a unidade do Praia de Belas, conforme a investigação, todos os cerca de 165 animais — entre roedores, aves e peixes — que estavam no local morreram. A polícia relata que durante a primeira entrada, computadores foram encontrados no segundo pavimento da loja.
— Denota que as empresas e as gerentes tinham conhecimento de que poderia entrar água na loja, tanto é que levaram equipamentos para cima — constatou a delegada.
Na unidade da Avenida Brasil, voluntários tentaram resgatar animais e interagiram com empregados da Cobasi, que efetuaram a remoção dos pets que estavam vivos. Informações obtidas pela polícia apontam que 348 animais estavam nesse local, mas não é possível precisar quantos foram resgatados. Segundo a Delegacia do Meio Ambiente, mesmo após o alagamento, ainda seria possível resgatar os animais.
— Após essas lojas terem sido alagadas, ainda assim essas pessoas que tinham o poder, o dever, que tinham a chave dessas lojas, que poderiam ir lá retirar esses animais, decidiram não retirar. A gente verifica aí essa omissão dessas gerentes, bem como as empresas em si — afirmou a policial.
A polícia responsabilizou também os CNPJs, da loja Cobasi da Praia de Belas, da Avenida Brasil e da matriz da empresa.
— Por que uma empresa bilionária não tomou uma decisão de retirar esses animais antes? Ficaram oito dias sofrendo maus-tratos. Não é crível que uma empresa desse porte não teria condições de recolher esses animais, tanto na Avenida Brasil quanto na Praia de Belas — disse a delegada Samieh Saleh.
Por meio de nota, a Cobasi diz estar indignada com o indiciamento (leia abaixo a nota na íntegra).
Já na loja Bicharada, foram dois responsáveis indiciados, além do CNPJ da empresa. No local, também houve resgate de animais por voluntários. Segundo a polícia, a água não invadiu totalmente a loja, mas os animais estavam fechados, sem luz e sem alimentação.
Durante o inquérito, a empresa chegou a alegar que deixou água e ração para os animais. No entanto, a polícia aponta que os animais não têm condições de entender a situação e racionar os mantimentos.
—Eles ingeriram toda essa alimentação no primeiro dia, inclusive alguns peixes podem ter vindo a óbito em razão disso, porque eles não têm esse controle. Então essa alegação de que os animais ficaram bem nessas lojas, não cabe — afirmou a delegada.
A loja Bicharada informou que soube nesta manhã do indiciamento e que, em breve, deve se manifestar.