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RIO GRANDE DO SUL

Barcos de socorristas surfam ondas de 1m50cm no Guaíba para resgatar ilhados

Subida das águas com a chuvarada incessante do fim de semana dificulta busca por pessoas e animais isolados pelas enchentes

Publicada em 14/05/2024 às 15:18h

Gaúcha ZH


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Marina
cresol

Barcos de socorristas surfam ondas de 1m50cm no Guaíba para resgatar ilhados
Sete cães foram resgatados por uma só embarcação na manhã desta segunda-feira (13). Jefferson Botega / Agencia RBS  (Foto: foto reprodução)

Tiritando de frio, ensopado, com olhos esbugalhados, o fox terrier com pelo branco encardido é carregado para fora do bote de borracha e logo envolto numa manta térmica de alumínio. Assustado, não dá um latido. Logo atrás dele vem um vira-latas branco, um grande cão negro e outro, mais outro, mais outro. Sete cachorros são retirados do barco por voluntários que correm para o complexo de tendas montado junto à Usina do Gasômetro, um símbolo de Porto Alegre, hoje ilhado pelas maior enchente já registrada no Rio Grande do Sul. Sem o alarido habitual, os animais saem num mutismo e com olhares baixos, nitidamente apavorados após dias e mais dias envoltos por água barrenta.

— Alguns ficam em telhados, outros ainda estavam presos dentro de casa. O pessoal têm de quebrar janelas e portas para entrar e resgatar. É de cortar o coração — descreve Karine Legendri, advogada porto-alegrense que se uniu à uma legião de voluntários para salvar vidas acossadas pelas cheias. 

Ela abriga em sua casa, neste momento, seis mergulhadores (alguns deles, médicos) especializados em resgate aquático. Usando trajes emborrachados e equipamento de snorkel, eles têm percorrido sobre e sob as águas bairros inteiros de Eldorado do Sul e das ilhas de Porto Alegre, em busca de animais e pessoas que possam estar submersas. E sempre encontram algum pet, ressalta Nelson Razzo Neto, um desses especialistas, um paulista que é instrutor de mergulho e inclusive dá aulas para as Forças Armadas.

 

Mais de 250 embarcações atuam nos resgates

Desde o começo de maio, quando o Guaíba e seus afluentes engoliram parte de Porto Alegre, a região em torno da Usina do Gasômetro abriga até 250 barcos e jet-skis tripulados por voluntários e, também, por servidores públicos. Eles aguardam a vez de ir para a água num acampamento à beira do Guaíba.

As tendas, alinhadas lado a lado como num complexo militar, formam a linha de frente da maior operação de resgate de animais dentre as tantas que proliferam pelo território gaúcho assolado pelas cheias. O acampamento congrega agências governamentais federais, estaduais e municipais, bem como voluntários de todos os matizes e origens. 

Na manhã desta segunda-feira (13) atuavam ali, num frenético movimento de entra e sai nas águas, grupos de bombeiros, policiais militares e civis, policiais federais, patrulheiros rodoviários, agentes do Ibama e guardas municipais. Grande parte deles, em trajes de mergulho, prontos para ingressar em residências.

A PF, por exemplo, também usa os embarcadouros improvisados no Gasômetro, mas montou estrutura própria a uns quatro quilômetros dali, no shopping Pontal. Ali está a base operacional dos mais de 400 policiais federais do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Brasília que atuam nas enchentes. No começo dedicados a socorro, os 20 barcos disponibilizados aos policiais agora fazem patrulhamento contra saques.

Já os grupos de voluntários da sociedade civil que fluem para o Gasômetro são compostos, na maioria, por adeptos de esportes náuticos, que custeiam o próprio combustível (e as despesas em geral) dos barcos e a montagem dos acampamentos. Gente como o empresário Marco Rocha, jipeiro e velejador do clube Veleiros do Sul, que arrecadou mil litros de gasolina para os barcos só no primeiro dia e calcula ter conseguido 49 mil litros em menos de uma semana. Tudo investido nas ações de socorro que partem do acampamento. 

Atuam também nesse front do Gasômetro turmas de profissionais do rafting e outras práticas esportivas. O Macuco Saffari, que leva turistas às corredeiras dos parques de Foz do Iguaçu (PR) e Turvo (RS), trouxe a Porto Alegre grandes botes de borracha que cruzam de forma incessante o Guaíba, atrás de refugiados.

Uma tenda foi montada com o objetivo específico de consertar os barcos usados no resgate. São mecânicos que atuam de forma voluntária.

— Tivemos mais de 150 embarcações reparadas em 12 dias. Consertamos motores aqui, mas temos urgência em conseguir hélices, rotores e velas — explica Rafael Ceolin, advogado e velejador, que faz a coordenação logística da tenda-oficina.

Nesta segunda-feira, no entanto, o número de barcos diminuiu. Eram cerca de 30, não por falta de vontade, mas porque o Guaíba estava em fúria. Cada embarcação tinha de surfar ondas de até 1,5 metro de altura, alimentadas por uma ventania vinda do sul do continente, tornando a navegação perigosa. E impraticável, para botes pequenos.

A subida das águas do Guaíba deve influenciar no aumento das ações de resgate, porque muitas pessoas que tinham retornado a suas casas terão de sair delas, novamente. Até o momento, as Forças Armadas socorreram mais de 63 mil pessoas e cerca de 7 mil animais. Já a Brigada Militar contabiliza o salvamento de 23 mil pessoas e 3 mil pets. Esses números não incluem socorro prestado por outras agências governamentais e por voluntários.




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