Assombrados com a destruição provocada pela enchente, políticos de diferentes vertentes ideológicas começaram a discutir o adiamento as eleições municipais no Rio Grande do Sul. A votação em que serão escolhidos os próximos prefeitos e vereadores das 497 cidades gaúchas está marcada para o dia 6 de outubro. O segundo turno, onde houver, para o dia 27.
Nos últimos dias, líderes de diferentes agremiações têm recebido telefonemas de correligionários de diferentes regiões do Estado para discutir a hipótese. O apelo não se restringe apenas aos pontos mais afetados, como a grande Porto Alegre ou o Vale do Taquari, já que praticamente todo o território gaúcho sofreu algum dano com o evento climático.
Consultados por GZH, parte dos presidentes dos maiores partidos do RS afirmaram concordar com o adiamento. Dos 10 dirigentes ouvidos, cinco manifestaram apoio à ideia e quatro disseram não ter posição firmada até o momento (veja abaixo). Apenas a presidente do PT, Juçara Dutra, rejeita a medida.
— A reconstrução do Estado vai longe, teremos esse passivo por muito tempo — justifica Juçara.
Entre quem apoia a postergação do pleito, prevalece a ideia de que o Estado não conseguirá se recuperar minimamente a tempo da campanha.
— O ambiente é difícil, não haverá nem clima para chegar na casa das pessoas e pedir voto — pondera o deputado federal Luiz Carlos Busato, presidente do União Brasil.
Também há quem considere que, faltando cinco meses para a votação, pode-se aguardar mais tempo para tomar a decisão.
— Devemos esperar pelo menos uns 40 dias, quando as águas baixarem, para ver a realidade das cidades — opina o deputado estadual Elizandro Sabino, do PRD.
A última eleição municipal, em 2020, teve a data postergada para 15 de novembro, em razão da pandemia de covid-19. Para isso, foi necessário aprovar uma emenda à Constituição no Congresso Nacional.
Caso se decida pelo adiamento neste ano, o mesmo caminho terá de ser adotado. Se o pleito for remarcado para 2025, ainda será preciso prorrogar os mandatos dos atuais prefeitos e vereadores, que terminam em 31 de dezembro.
A despeito do frisson na classe política, a Justiça Eleitoral não discute, até o momento, a hipótese de alterar a data da votação. No Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul (TRE-RS), a prioridade é contabilizar os prejuízos provocados pela enchente.
A sede da Corte no Centro de Porto Alegre, onde fica a central de atendimento ao eleitor, teve o primeiro andar tomado pela água. Preocupação ainda maior se abate sobre o depósito que guarda 15 mil urnas na região do 4º Distrito. Cercado pela água, o prédio também está sem luz, o que impede o videomonitoramento e, com isso, a possibilidade de saber se e como as máquinas foram afetadas.
No Interior, os cartórios eleitorais de São Sebastião do Caí, São Jerônimo, São Leopoldo e Arroio do Meio foram arrasados, enquanto o de Igrejinha sofreu danos parciais. A estimativa é que ao menos 500 urnas tenham se perdido.
Presidente do TRE, a desembargadora Vanderlei Teresinha Tremeia Kubiak, afirma que a Corte está se preparando para realizar as eleições na data prevista. Se necessário, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) avisou que mandará uma carga extra de aparelhos ao Rio Grande do Sul.
—O TSE já nos sinalizou que tem contingente suficiente para a reposição e, em último caso, poderíamos usar as urnas do Distrito Federal, onde não há eleições municipais — ressalta a desembargadora.
O atendimento presencial está suspenso em todo o Estado, mas a emissão, transferência e regularização do título eleitoral podem ser feitas pela internet, neste link.