O Rio Grande do Sul permanece fora do mapa das ferrovias brasileiras. Cercada de expectativas ao longo do governo passado, a prorrogação da concessão da Malha Sul – que envolve, além do Rio Grande do Sul, os Estados de Santa Catarina, Paraná e São Paulo – não evoluiu. Após a troca de comando no governo Federal, as esperanças foram renovadas, mas nada de concreto aconteceu até momento.
Entre as rotas suspensas, a Fronteira Oeste e a Metade Sul, de onde brota boa parte do arroz, da soja, do trigo e milho gaúchos, ficou vaga, ou melhor sem vagões. Em agosto passado, uma reunião na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) serviu para realinhar as diretrizes. Naquela ocasião, o diretor-geral da ANTT, Rafael Vitale, cobrou o andamento de obras e desdobramentos sobre as malhas ferroviárias Paulista, Sul e Oeste.
Segundo ele, o objetivo era fortalecer as ferrovias no Brasil e gerar aproximação com as empresas, para “tentar entender melhor os problemas, agir na articulação com terceiros, quando necessário e até mesmo sugerir soluções, para minimizar os impactos negativos e garantir a execução do cronograma de entregas à sociedade”.
A Rumo, por sua vez, apresentou relatório de R$ 20 bilhões em investimentos obrigatórios entregues desde 2015 até o primeiro semestre deste ano, e respondeu aos questionamentos da ANTT sobre as evoluções e entraves das Malhas Sul.
A fala e os números embelezam um quadro que, na prática, é bem diferente. Ao todo, a concessão, que passa por São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, possui 16 entroncamentos e 16 pontos terminais, com quatro corredores principais e seis ramais. São 38 estações com origem de carga e 115 rotas que levam a três portos (Santos-SP, Paranaguá-PR e Rio Grande-RS).
Os trens, “quanto mais ao Sul pior” são velhos, lentos e a infraestrutura é danificada, concordam os especialistas ouvidos pela coluna. A cada ano, cerca de R$ 125,3 bilhões, ou o equivalente a 21,5% do Produto Interno Bruto gaúcho, segundo aponta a Câmara Brasileira de Logística e Infraestrutura (Camaralog), escorrem em grãos desperdiçados nas estradas do RS.
E, enquanto nada surge para alterar a situação e os prejuízos, o Tribunal de Contas da União (TCU) entrou em cena e – com base em decisão de dezembro, que definia pagamento adicional de R$ 1,170 bilhão pela Rumo, referente à otimização do contrato – gerou a assinatura de um acordo no valor de R$ 2,6 bilhões na Malha Paulista.
A ideia desse contrato, assinado junto ao Ministério dos Transportes é, justamente, “corrigir distorções e tornar a operação da empresa mais eficiente e garantir avanços na política ferroviária brasileira", afirmou o ministro da pasta, Renan Filho. Outra vez as palavras adornam os contornos. Mas onde estão os 1,5 mil km de ferrovia que sumiram da Malha Gaúcha nos últimos 27 anos?