Como resposta ao ataque terrorista promovido por golpistas bolsonaristas neste domingo (8) em Brasília, manifestantes saíram pelas ruas de todo o país nesta segunda-feira (9), marchando pela democracia. Em Porto Alegre, cerca de 20 mil pessoas caminharam pelas ruas do centro da Capital cobrando responsabilidade de todos os envolvidos na depredação das casas dos Três Poderes. “Sem anistia e sem perdão!" enfatizaram os manifestantes. O ato foi organizado pela Frente Brasil Popular, centrais sindicais e movimentos populares.
Pouco antes das 18h, manifestantes começaram a se concentrar na Esquina Democrática, encontro da Avenida Borges de Medeiros com a Rua dos Andradas. No Rio Grande do Sul, além de Porto Alegre, atos foram realizados nas cidades de Alegrete, Cachoeira do Sul, Camaquã, Caxias do Sul, Garibaldi, Ijuí, Lajeado, Osório, Pelotas, Rio Grande, Santa Cruz do Sul, Santa Maria, Sant'Ana do Livramento. O Brasil de Fato RS esteve no ato na Capital e ouviu alguns dos manifestantes para saber o que motivou a participação.
Para o trabalhador dos Correios e secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores de Correios do RS, Alexandre dos Santos Nunes, as cenas de domingo (8) foram lamentáveis e criminosas. “Foi um golpe conta a nossa democracia e precisa que sejam exemplarmente punidos todos os financiadores, instigadores, todos que participaram.”
“A gente está aqui porque somos uma categoria que lutou contra o governo Bolsonaro desde antes dele assumir. Cada dia esse governo questionou a nossa empresa, a categoria dos Correios, disse que ia privatizar todas as empresas. Os trabalhadores lutaram bravamente e continuam lutando. Antes era pelo Ele não, depois foi pelo Fora Bolsonaro, e agora estamos aqui na luta pelo fora bolsonaristas, não ao golpe militar, contra essa intervenção que estão tentando fazer”, destacou.
Para a professora e diretora da Atempa Camila Reis, o que aconteceu no domingo foi algo complicado para a história da nação, destacando a depredação de objetos históricos e obras de arte. “É um ato terrorista que aconteceu. Nós temos que ter nítido que vivemos em um Estado democrático e que ele tem que ser garantido”, afirmou.
Indagada sobre a percepção da categoria sobre o ato terrorista, ela diz que é de choque.”Para os professores, toda a história e a construção da democracia é muito importante. Há uma comoção e um sofrimento coletivo com a depredação das obras de arte e artefatos históricos."
Presente no ato, a presidente da Avico Brasil, Paola Falceta, lembrou que Bolsonaro tem relação e responsabilidade direta pelas mais de 400 mil mortes evitáveis pela pandemia da covid-19. “Estamos aqui para repudiar todo tipo de ação antidemocrática que nós entendemos que são fascistas, golpistas e que não aceitaram de jeito nenhum que foram derrotados democraticamente na eleição.Temos que estar mobilizados e precisamos ajudar o Brasil a estar mobilizado e defendendo a democracia para que não aconteça nunca mais o que aconteceu com nossos familiares e sobreviventes da covid-19.”
Para Juliana Guerra, integrante do Diretório Central de Estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e coordenadora nacional da União da Juventude Comunista, o que foi visto em Brasília ressalta que o fascismo não acaba nas urnas. “O que vimos ontem é uma demonstração que não podemos nos encolher, e sim estar garantindo a saúde da classe trabalhadora, a saúde e segurança dos povos indígenas, do povo quilombola, de todos os povos oprimidos do Brasil. Somente com o povo na rua vamos conquistar isso.”
Em sua avaliação, apesar de não ser esperada a magnitude do que aconteceu, era algo que ninguém ficou surpreso. “A gente acabou deixando o bolsonarismo derreter eleitoralmente, mas não tomamos medidas de combate muito práticas. Todo esse tempo bolsonaristas tiveram acampamentos, mobilização, e pouco se fez com a esperança de que eleitoralmente eles seriam derrotados. Derrotamos eles eleitoralmente, mas eles demonstram que ainda estão com moral de ir para as ruas e a gente tem que mostrar que o lugar deles é na lata do lixo da história.”
Dary Beck Filho, diretor do Sindipetro RS, enfatizou que a categoria dos petroleiros está repudiando o que aconteceu. Ele também comentou do receio que os trabalhadores tiveram com a tentativa de bloqueio das refinarias, dispersados pela polícia. “Antes eram atos antidemocráticos, agora viraram atos terroristas. As pessoas que cometeram os atos criminosos, terroristas, têm que ser submetidos à força da lei”, enfatizou
O dirigente também pontuou que quem já esteve em Brasília sabe que quatro mil pessoas não fariam o estrago feito sem a conivência do aparato de segurança. “Nós já botamos 100 mil em manifestações e não chegamos nem perto dos prédios. E os caras entraram no STF, no Congresso, no Planalto que tem segurança própria. A coisa mudou quando teve a interferência federal, isso também é indicativo que havia alguém trancando e esse alguém deve ser punido.”
Oficial de Justiça, Daniel Henrickson disse que foi ao ato para exercer sua função de cidadão e defendendo a democracia. “Estamos em um momento muito delicado em que um grupo de golpistas estão querendo tomar o poder à força e o povo não pode deixar. Temos que respeitar o voto do povo e temos que ir para rua para impedir que esses terroristas tomem o poder.” Ao ver as cenas deste domingo disse que o sentimento foi de tristeza e revolta. “A gente vê as pessoas depredando o patrimônio públicos, obras de arte e desrespeitando totalmente a democracia, os Três Poderes, chegaram até defecar lá dentro.”
Para o advogado da Frente Quilombola do RS, Onir Araujo, é inadmissível que um setor supremacista branco, bolsonarista, passe por cima de qualquer marco cívico básico. “O que fica patente e que tem que ser bem investigado é a leniência das forças de segurança em relação ao que estava sendo já programado, e que aconteceu. Nós nos somamos aqueles que exigem investigação e a punição de quem prevaricou, financiou. Não podemos passar pano em uma situação tão grave como esta”, frisou.
Ele ponderou que alguns movimentos já vinham alertando e sinalizando o que poderia acontecer. “Se sinalizou, ameaçou, se ensaiou várias vezes, destilou-se o ódio e agora se concretizou. É muito grave essa situação. Estamos em alerta nos territórios quilombolas, nas aldeias porque a gente sempre foi alvo, foco. É muito importante essa unidade na defesa do que a Constituição Federal prevê e é importante que as ruas deem a dinâmica nesse processo.”
A cantora Negra Jaque afirmou ser importante estar nas ruas neste momento, por tudo que vem acontecendo há algum tempo. “Ontem foi o ápice da falta de respeito e da violência. A gente está aqui dizendo que temos uma narrativa positiva sobre o Brasil que queremos, que é um país de paz, cultura e arte que está na rua hoje mostrando que existe uma outra alternativa."
Questionada sobre qual sensação lhe causou as imagens dos atos, afirmou que a percepção é de violência. “Sabe quando tu está com uma família em um relacionamento abusivo?”, comparou. “É aquela pessoa que ainda hoje é marcada pela figura masculina que ainda violenta esse país, que não quer ir embora, a gente não vai deixar esse país morrer”, afirmou.