Decisão judicial abre caminho para começar a pagar as dívidas da Cotrijui, que já foi a maior cooperativa da América Latina. Os débitos somam R$ 2,5 bilhões, com 11.496 credores. A Justiça julgou improcedente 13 recursos contra a sentença de liquidação judicial e retirou um efeito suspensivo.
Por ser cooperativa, a Cotrijui não vai à falência. O segmento tem uma lei própria para tratar da quebra do negócio. Então, em 2014, com a crise financeira, os próprios associados aprovaram que ela entrasse em liquidação extrajudicial. Um tempo depois, provocada por uma ação de um credor, ela foi convertida em liquidação judicial, o que permitiu a nomeação de um administrador, que arrendou unidades de armazenamento e fez a gestão dos supermercados.
Agora, poderão ser vendidos os bens da Cotrijui. Estimados inicialmente em R$ 383 milhões, não serão suficientes para pagar todos os credores, o que é usual em falências tradicionais. São 591 hectares de terra e armazéns e silos com capacidade para 704 mil toneladas de grãos. São 165 imóveis, vários reunidos nas chamadas unidades de armazenamento, além de oito supermercados em operação.
- Foi um julgamento histórico. Agora, serão arrecadados os bens, será feita avaliação de todos e, então, marcado o leilão para que sejam vendidos. É possível que ativos de menor importância efetivamente possam ser acrescidos - explicou à coluna José Paulo Japur, sócio da Brizola e Japur Administradora Judicial, nomeada para o processo.
Os problemas financeiros começaram nos anos 2000, de passivos trabalhistas e tributários a não pagamento de associados e fornecedores por frustrações de safra ou problemas de gestão. Há credores esperando por mais de uma década para receber pagamentos. Agora, a cooperativa se aproxima do fim.
- A expectativa é pagar integralmente, ao menos, as dívidas trabalhistas. Também foi confirmado o entendimento de que associados que tinham grãos na cooperativa em regime de armazém geral serão restituídos - acrescentou o advogado.
Em 2019, o Ministério Público do Estado apresentou denúncia contra quatro ex-executivos da cooperativa, que tem sede em Ijuí, no noroeste do Estado. A acusação é de apropriação indébita de grãos de associados.