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Após vendas à Smed, empresário foragido transferiu R$ 556 mil para ex-CC da prefeitura

Polícia Civil identificou a circulação de dinheiro entre alguns dos suspeitos de envolvimento com corrupção na prefeitura de Porto Alegre

Publicada em 26/11/2024 às 14:00h

Gaúcha ZH


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Marina
cresol

Após vendas à Smed, empresário foragido transferiu R$ 556 mil para ex-CC da prefeitura
As apurações policiais foram iniciadas após reportagens do GDI terem revelado o suposto desperdício de material escolar em depósitos e em escolas. Lauro Alves / Agencia RBS  (Foto: foto reprodução)

O inquérito da Polícia Civil sobre as suspeitas de corrupção na Secretaria Municipal da Educação de Porto Alegre (Smed) identificou a circulação de valores entre investigados na terceira fase da Operação Capa Dura. Uma das descobertas foi de que o empresário Jailson Ferreira da Silva, que está foragido, fez quatro transferências para o advogado Maicon Callegaro Morais, no valor total de R$ 556 mil. 

Os pagamentos foram feitos por Jailson entre agosto e dezembro de 2022, mesma época em que o empresário finalizou seis vendas de livros e laboratórios para a Smed, somando R$ 43,2 milhões. A suspeita da polícia é de que Jailson, após confirmar vendas para a prefeitura da Capital, teria pago propina a agentes públicos e privados. Os repasses dele a Maicon fazem parte desse contexto de suspeita.

Maicon já trabalhou na prefeitura em diferentes funções e setores, entre julho de 2015 e agosto de 2020. Ele não tem cargo público atualmente e não tinha à época do recebimento de recursos de Jailson, em 2022. A suspeita da polícia é de que Maicon tenha funcionado como um operador financeiro, por meio do seu escritório de advocacia, entre Jailson e o então chefe de gabinete do vereador afastado Pablo Melo (MDB), Reginaldo Bidigaray, de quem é amigo, ex-colega de faculdade de Direito e de trabalho na prefeitura.

Mensagens analisadas pela polícia mostram que Maicon teria solicitado ao seu contador a emissão de notas fiscais de prestação de serviços advocatícios para justificar os valores recebidos do empresário. A investigação não localizou registros de que tais serviços tenham sido realizados. Do montante remetido por Jailson, Maicon teria sacado a maior parte em espécie: R$ 440,3 mil.

Maicon teria feito 12 transferências que somaram R$ 85,5 mil para Bidigaray. Após deixar o gabinete de Pablo em abril de 2023, Bidigaray se tornou Cargo em Comissão na Procuradoria-Geral do Município (PGM), ocupando o posto até 18 de novembro de 2024. A investigação policial teve acesso, com autorização judicial, aos dados da nuvem digital de Maicon, onde constavam arquivos do seu telefone celular.

Em uma conversa em 16 de dezembro de 2022, Maicon envia uma mensagem de áudio para Bidigaray. Maicon pergunta se Bidigaray pode ir até a sua residência para buscar o "pardo". A Polícia Civil avalia que o conteúdo do "pardo" pode se tratar de propina. Uma semana antes da conversa, em 9 de dezembro de 2022, Jailson havia feito uma das quatro transferências para Maicon, no valor de R$ 316 mil. Depois de combinarem o horário para o resgate do "pardo", Maicon diz que a intenção é não prejudicar os "meninos", de maneira que não fiquem sem "dinheiro pro Natal".

Em 20 de dezembro de 2022, quatro dias depois da conversa sobre o "pardo", Bidigaray encaminha para Maicon áudio de um interlocutor não identificado, o qual afirma que "a encomenda foi entregue para o doutor". Maicon responde informando um número: "50".

O vereador afastado Pablo Melo também é considerado suspeito no inquérito por supostamente ter usado de influência política para aproximar Jailson da prefeitura. Está sob apuração o possível recebimento de vantagem indevida pela intermediação. Pablo é filho do prefeito Sebastião Melo, que não é investigado. 

A Polícia Civil identificou que Pablo teria depositado via pix mais de R$ 391 mil em uma plataforma virtual de apostas esportivas. A investigação busca decifrar se Pablo tinha condições financeiras para fazer tamanho aporte tendo um salário líquido de cerca de

R$ 13,3 mil como vereador. Ele ocupou o cargo até 12 de novembro, quando foi afastado das funções públicas por ordem judicial, em desdobramento da Operação Capa Dura. Também foi identificado que, do montante creditado na plataforma de apostas, Pablo teria feito o resgate de R$ 287 mil. A suspeita é de que as operações teriam sido utilizadas como meio de lavagem de dinheiro.

Batizada Prefácio, a terceira fase da Operação Capa Dura, desdobramento de investigação da 1ª Delegacia de Combate à Corrupção (1ª Decor), foi deflagrada no dia 12 de novembro de 2024. Bidigaray e Maicon foram presos preventivamente, e seguem presos. Jailson também foi alvo de mandado de prisão, mas saiu de casa pouco depois das 5h, minutos antes da chegada dos policiais. Ele não se apresentou posteriormente e é considerado foragido.

Três pessoas foram afastadas das funções públicas por 180 dias: Pablo, que deixou a Câmara, o ex-vereador Alexandre Bobadra (PL), servidor de carreira da Polícia Penal, e o CC da PGM Mateus Viégas Schonhofen, tesoureiro do MDB de Porto Alegre. Também foram cumpridos 14 mandados de busca e apreensão. As decisões foram emitidas pelo 1º Juizado da 1ª Vara Estadual de Processo de Julgamento dos Crimes de Organização Criminosa e Lavagem de Dinheiro.

As apurações policiais foram iniciadas após reportagens do Grupo de Investigação da RBS (GDI) terem revelado, a partir de junho de 2023, o suposto desperdício de material escolar em depósitos e em escolas. Na sequência, o GDI mostrou o suposto direcionamento de compras da Smed para o grupo econômico representado pelo empresário Jailson. Na Operação Prefácio, a Polícia Civil apura como agentes públicos — supostamente Pablo e Bobadra — teriam intermediado a aproximação de Jailson com a Smed, em uma reunião no gabinete do prefeito Melo em julho de 2021.




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