O protagonismo do estudante ganhou um contorno mais perceptível com a criação dos itinerários formativos do chamado Novo Ensino Médio. Eles são constituídos por trilhas de aprendizagem, um conjunto de atividades que coloca o aluno no centro do processo.
Mais do que isso: as instituições precisam oferecer pelo menos duas opções, permitindo que cada um siga o roteiro que fizer mais sentido.
— A expectativa é de que o estudante saia com uma formação básica mais ampla e sólida em todas as áreas do conhecimento. A Educação Básica é base para toda a vida, portanto, precisa ser uma educação integral, de todas as dimensões do ser humano. E o Ensino Médio, como a última etapa, precisa aprofundar a formação para a cidadania, para a continuação dos estudos e para o mundo do trabalho, pois isso impactará em todos os processos futuros destes jovens — observa Gabriel Grabowski, doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professor pesquisador da Universidade Feevale.
Com a abertura de mais possibilidades, surgiram dezenas de trilhas dos mais variados temas. Para controlar esse fenômeno, a carga horária da Formação Geral Básica (FGB) foi ampliada e a das trilhas, reduzida. Entre os temas abordados estão o pensamento computacional, gamificação, educação financeira, sustentabilidade, relações internacionais e a questão ambiental.
De acordo com a legislação, tudo isso pode aparecer em formato de clubes, grupos de estudo, laboratórios ou outras ações.
— O currículo precisa ser um articulador de todas as experiências possíveis de aprendizagens e de vida destes jovens estudantes. É momento de abrir horizontes, sonhar grande e de conhecimentos globais dos campos científico, cultural, tecnológico e humano. As especializações devem ser incentivadas após uma boa e sólida formação básica que será o alicerce das demais etapas de formação ao longo da vida — destaca Grabowski.
O papel das trilhas
A integração com o currículo é um dos pontos centrais na hora de escolher uma instituição de ensino. O professor da Escola de Humanidades da Unisinos Roberto Rafael Dias da Silva explica que a redução no número de itinerários formativos vem para permitir que sejam melhor implementados.
Ele orienta que as famílias visitem as escolas para conhecer a infraestrutura e a arquitetura das trilhas de aprendizagem.
— Tenho recomendado para os pais que tenham acesso, que escutem outros estudantes para enxergar o potencial de contribuição da escola para a formação: vínculos com a comunidade, atividades culturais e diversificação da formação — defende.
Para o professor, já que o itinerário formativo vai ocupar uma porcentagem menor da carga horária nesse novo desenho, que entra em vigor em 2025, a escola pode optar por outras formas de organização na hora de produzir o aprofundamento.
— O grande debate, hoje, na escolha dos adolescentes é o engajamento. O que tem que despertar o interesse são as grandes áreas, mas isso pode ser feito em uma linguagem que seja mais sedutora e favoreça o engajamento — frisa.
Hora de escolher
O professor Roberto da Silva elenca três pilares que podem ser bons norteadores na hora de escolher uma instituição de ensino, sob a perspectiva das trilhas de aprendizagem:
-Preocupação interdisciplinar: As trilhas devem contemplar diversas competências e habilidades, ligadas a múltiplas áreas do conhecimento
-Espaço de escuta dos jovens: Muitas vezes, as trilhas são definidas a partir de pesquisas feitas com os próprios alunos. Para ser protagonista, ele precisa ter voz
-Engajamento prático: Atividades em laboratórios, cine clubes, salas de leitura ou outras iniciativas que vão além do formato aula
O que muda com o Novo Ensino Médio
-A Formação Geral Básica salta de 1.800 horas para 2.400 horas (800 por série)
-Os itinerários formativos, com suas trilhas de aprendizagem, passam de 1.200 horas para 600 horas (200 por série)
-Além de Português e Matemática, a Formação Geral Básica (FGB) passa a ter outras disciplinas oficialmente nominadas (como Biologia, Física, Química, Geografia, História e Filosofia)
-Por lei, as escolas devem oferecer pelo menos dois itinerários distintos para cada ano letivo (cada um contemplando as 200 horas)
-Ao todo, cada série precisa oferecer no mínimo mil horas de aula em, pelo menos, 200 dias letivo