Enquanto prossegue a saga do navio Mount Taranaki, com bandeira de Hong Kong, que continua fundeado no canal de Itapuã, entre o Guaíba e a Lagoa dos Patos, na Região Metropolitana, os prejuízos já podem ser mensurados, uma semana depois de seu encalhe. Também o problema foi agravado: o EVA Shanghai, outra embarcação que estava fundeada no mesmo canal, aguardando a saída do primeiro, tentou seguir viagem e igualmente encalhou na manhã desta sexta. Ele carrega 12 mil toneladas de fertilizante, e vinha do porto de Al Jubail, na Arábia Saudita. Assim como no caso do Mount Taranaki, rebocadores foram acionados.
Segundo o presidente da Hidrovias RS, Wilen Manteli, considerando que o Shanghai, mais duas embarcações, não puderam avançar devido à parada do primeiro, o custo pode chegar a cerca de US$ 1 milhão somente na sobrestadia. Este valor representa a taxa cobrada pelo armador, como é chamado o dono do navio. “O valor da sobrestadia diária varia em função do tipo de contratação, do navio, da carga ou da época de forte ou baixa demanda no transporte marítimo”, comenta ele, ao justificar o cálculo.
Manteli afirma considerar a taxa média de US$ 50 mil. Como são três embarcações por sete dias, o valor é multiplicado por 21, resultando em US$ 1.050.000,00. Em valores desta sexta-feira, seriam R$ 5,97 milhões. Em tese, conforme o presidente, o custo irá para o proprietário da carga ou o armador, dependendo do caso. “Entendo, como convicção profunda, que, considerando ser de responsabilidade da administradora dos portos a manutenção dos acessos hidroviários, a conta deveria ser dela”, diz ele, se referindo a Portos RS.
“Até porque, ela cobra tarifas que deveriam ser investidas na conservação dos canais”. No entanto, há outros custos envolvidos. “O armador poderá ser afetado em etapas futuras de sua viagem, sua agenda desarticulada, e ainda haver multas por atraso nos próximos portos”, salientou Manteli. Isto prejudica, segundo ele, toda a cadeia logística, já que o navio, até o momento, não pôde descarregar sua carga de 12 mil toneladas de cevada para a indústria cervejeira, vinda da Argentina.
“A empresa dona da mercadoria poderá ter sérios prejuízos em sua linha de produção, assim como o sistema hidroviário e portuário sofrer uma queda no seu conceito e credibilidade junto aos mercados internos e internacionais. Os armadores, para virem para cá, poderão aumentar o valor de seus fretes, ou se negarem a vir devido aos riscos de navegabilidade na Lagoa dos Patos”, comenta. Nesta sexta-feira, a possibilidade de aumento no nível do canal poderá fazer com que, finalmente, a embarcação deixe o local e siga viagem rumo à Capital, liberando também a rota para os demais.
Vereador de Porto Alegre protocola moção de repúdio após encalhes
O vereador de Porto Alegre Jessé Sangalli protocolou, nesta sexta, uma moção de repúdio na Câmara Municipal ao Piratini em razão da falta de dragagem. O texto afirma “repudiar com veemência a omissão do governo do Estado em atender a demanda urgente de dragagem do rio. Esse silêncio administrativo não apenas negligencia o impacto econômico da situação, mas também revela uma postura desrespeitosa em relação às necessidades básicas da população e das empresas que dependem da circulação fluvial para garantir a manutenção de seus negócios”.
Na quinta, o governo estadual anunciou R$ 731 milhões para dragagem nas hidrovias gaúchas, recurso este para executar serviços de batimetria e dragagem em mais de 320 quilômetros de hidrovias interiores, além de cerca de 40 quilômetros de canais na área portuária de Rio Grande e do seu canal de acesso, mais auxiliar na reconstrução da infraestrutura e de equipamentos do Porto de Porto Alegre.
Ainda, restaurar as profundidades dos canais de navegação, incluindo o porto de Rio Grande, a hidrovia da Lagoa dos Patos, o Guaíba e o Delta do Jacuí, os canais do Rio São Gonçalo e trechos dos rios dos Sinos, Caí e Gravataí. “É mais um investimento robusto, significativo, do governo do Estado, de enfrentamento aos problemas que a enchente de 2024 trouxe ao Rio Grande do Sul”, destacou o secretário de Logística e Transportes, Juvir Costella, que apresentou a proposta ao Comitê Gestor do Funrigs.