O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que fará uma reunião nesta quarta-feira, 3, para avaliar medidas contra o que ele chamou de "especulação" no mercado de câmbio. A declaração aumentou a pressão sobre o dólar - já afetado por fatores externos e por falas anteriores do próprio presidente -, e a moeda chegou a bater em R$ 5,70 no momento de maior estresse. Perdeu força no fim do dia e fechou em R$ 5,66, com avanço de 0,20%. Em apenas dois pregões no mês, a valorização já chega a 1,37%; no ano, o ganho acumulado é de 16,72%.
"Temos de fazer alguma coisa. Eu não posso falar aqui o que é possível fazer, porque eu estaria alertando os meus adversários", declarou Lula, em entrevista à Rádio Sociedade, em Salvador (BA). "É um absurdo. Veja, obviamente me preocupa essa subida do dólar. É uma especulação. Há um jogo de interesse especulativo contra o real neste País."
Desde meados do mês passado, quando o dólar estava no patamar de R$ 5,43, Lula tem dado entrevistas quase diárias em que critica a atual política monetária e ataca o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a quem acusa de ter "viés político" e "não trabalhar pelo desenvolvimento do País". Os ataques têm incomodado os investidores, já cautelosos em relação às promessas do governo de controle do déficit público, e o resultado é a alta das cotações.
A entrevista desta terça, 2, foi a senha para que surgissem especulações sobre eventuais medidas do governo para tentar frear o dólar. Em artigo publicado ontem no jornal Valor Econômico, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, interlocutor de Lula, defendeu o controle de capitais e criticou quem atribui o tombo do real à percepção de piora fiscal.
Questionado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, respondeu que não há nada que o governo planeje fazer no sentido de conter a alta do câmbio a não ser "acertar a comunicação" sobre a autonomia do Banco Central e a "rigidez" do arcabouço fiscal. Para Haddad, a alta do dólar reflete "ruídos" na comunicação do governo com o mercado. "Não vejo nada fora disso, autonomia do BC e rigidez do arcabouço fiscal, é isso que vai tranquilizar as pessoas. Questão mais de comunicação do que qualquer outra coisa", disse ele. Sobre a reunião de hoje com Lula, afirmou que continua "trabalhando com agenda eminentemente fiscal com o presidente".
A última vez que o BC interveio no mercado foi em 2 de abril, com a venda de US$ 1 bilhão em "swaps" cambiais, para amenizar o impacto de vencimento de NTN-As (títulos indexados à taxa de câmbio). "O dólar só está assim esticado por questões políticas. Esse embate entre Lula e Campos Neto aumentou muito o estresse, em momento de dúvidas com a questão fiscal", disse o diretor de câmbio da corretora Ourominas, Elson Gusmão.