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Brasil

Presidente Biden pendurou no pescoço de Trump as imagens da invasão do Capitólio

Imagens do 8 de janeiro comprometem o candidato bolsonarista à Presidência?

Publicada em 14/03/2024 às 07:06h

Carlos Wagner


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Marina
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Há um detalhe que merece toda a atenção dos brasileiros, especialmente dos jornalistas, no discurso feito pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden (democrata), 81 anos, na quinta-feira (07/03), no Capitólio, o congresso americano. Biden iniciou o discurso, que durou quase uma hora e meia, citando o alerta feito pelo presidente Franklin Roosevelt (1933 a 1945) sobre o perigo que a democracia corria no mundo com o crescimento do nazismo, na Alemanha, com Adolf Hitler, e do fascismo, na Itália, com Benito Mussolini, o que tornava iminente a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945). Quando eclodiu, o conflito acabou envolvendo 72 países e deixando um rastro de 70 milhões de mortos. Dito isso, Biden tomou fôlego, ficou sério e recomeçou: “Hoje, o perigo à democracia é interno. Aconteceu aqui nesta casa em 6 de janeiro de 2021, quando o meu antecessor incentivou a invasão do Capitólio”. Foi como se Biden tivesse pendurado uma placa no pescoço do seu antecessor, apontando-o como inimigo da democracia, o responsável pelos atos terroristas documentados pelas TVs de todo o mundo em 6 de janeiro de 2021, quando uma tentativa de invasão ao Capitólio para impedir a escolha do novo presidente dos Estados Unidos pelo colégio eleitoral resultou em nove mortos, dezenas de feridos e muita destruição. O antecessor é o ex-presidente Donald Trump (republicano), 77 anos, que concorreu à reeleição em 2020 e, após ser derrotado por Biden, incentivou os seus seguidores a invadir o Capitólio.

Ainda não houve a confirmação oficial. Mas a disputa presidencial americana, em novembro próximo, deverá ser novamente entre Biden e Trump. E a placa do 6 de janeiro que o presidente americano pendurou no pescoço do seu adversário será largamente usada na publicidade da campanha. Citei o episódio do discurso de Biden para puxar a conversa para a disputa pela Presidência do Brasil em 2026. Seja lá quem for o candidato bolsonarista, o seu adversário deverá tentar atrelá-lo os acontecimentos de 8 de janeiro de 2023, quando seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) quebraram tudo que encontraram pela frente no Palácio do Planalto, no Congresso e no Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília (DF), numa tentativa de derrubar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que havia assumido o governo uma semana antes. Bolsonaro não vai concorrer nas próximas eleições porque foi declarado inelegível por oito anos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mas ele sabe que a sua sobrevivência política depende da consolidação do movimento bolsonarista, que reúne a extrema direita e parte importante da direita democrática. E para que isso aconteça é necessário que, em 2026, haja um candidato competitivo. As imagens de 8 de janeiro têm um imenso potencial de complicar a vida desse candidato. Portanto, é necessário torná-las irrelevantes. A primeira tentativa já foi feita e falhou. Tentaram emplacar a tese absurda de que tudo que aconteceu em 8 de janeiro foi articulado por Lula. Tratei do assunto em 25 de julho de 2023 no post Bolsonaro diz que o 8 de janeiro não foi tentativa de golpe, então o que foi aquilo?

A segunda tentativa de tornar irrelevante as imagens de 8 de janeiro está em andamento. O ex-vice-presidente de Bolsonaro, o general da reserva Hamilton Mourão (Republicanos-RS), fez um projeto de lei concedendo anistia para quem participou do quebra-quebra em Brasília. A recém-eleita presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ), Caroline de Toni (PL-SC), se comprometeu a lutar pela anistia. Ninguém sabe o fôlego que terá o projeto. Mas a aposta dos bolsonaristas é grande. Tanto que no ato que reuniu 200 mil pessoas na Avenida Paulista, área central de São Paulo, no último domingo de fevereiro (25), o ex-presidente insistiu no pedido de anistia. E foi apoiado pelo organizador, mentor e financiador da manifestação, o pastor neopentecostal Silas Malafaia, da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, um dos ícones da extrema direita brasileira. Mais de 1,5 mil pessoas estão envolvidas nos atos terroristas de 8 de janeiro, somando os que são investigados (financiadores e incentivadores), os já condenados e os que estão em liberdade vigiada. Aqui é o seguinte. Os estrategistas políticos do governo Lula ainda não entenderam que os bolsonaristas estão lutando pelo poder de eleger o próximo presidente. Essa luta não tem nada a ver com a administração do país. Basta ver que nas favelas das regiões metropolitanas os pastores seguidores de Malafaia não estão falando mal do Bolsa Família e dos outros programas sociais do governo. Eles estão batendo na tecla de que é necessário anistiar os participantes dos atos de 8 de janeiro, o que tornaria as imagens do quebra-quebra irrelevantes e facilitaria a vida do candidato bolsonarista a presidente.

Na primeira semana de março, o governo do presidente Lula sofreu uma significativa queda na sua popularidade – as pesquisas estão disponíveis na internet. A imprensa enfileirou vários motivos, entre eles a troca de desaforos entre Lula e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, o preço dos alimentos e outros assuntos – há matérias na internet. Há um fato que não foi mencionado. Desde que deixou a Presidência da República, a presença de Bolsonaro nas manchetes dos grandes jornais nacionais é permanente. Não interessa o motivo. O que interessa é que ele está lá. Daí que não fiquei surpreso com a presença de 200 mil pessoas na Paulista em 25 de fevereiro. Enquanto os estrategistas de Lula não entenderem a diferença entre a luta pelo poder e a administração do país vão ter surpresas desagradáveis. Pela maneira que foi organizado o seu discurso, o presidente americano e os seus assessores já entenderam essa diferença.




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