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Reciclagem de plataforma de petróleo traz novo ânimo ao polo naval de Rio Grande

Transformação de estrutura gigante em sucata para a indústria siderúrgica gera esperança de que o futuro possa ao menos se aproximar dos tempos de bonança econômica que ficaram para trás em 2016

Publicada em 09/03/2024 às 08:22h

Gaúcha ZH


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Marina
cresol

Reciclagem de plataforma de petróleo traz novo ânimo ao polo naval de Rio Grande
Desmanche de plataforma gera cerca de 200 empregos. Charles Guerra / Especial  (Foto: foto reprodução)

Um silêncio incômodo percorre as oficinas desabitadas do Estaleiro Rio Grande, um complexo de 700 mil metros quadrados às margens da Lagoa dos Patos, em Rio Grande, no sul do Estado. Desde o ocaso do polo naval, em 2016, resta pouco da movimentação frenética de quando 12 mil trabalhadores labutavam 24 horas por dia montando estruturas petrolíferas. Agora há apenas o rosnar contido de um guindaste e o passo letárgico dos pouco mais de 200 funcionários dedicados a impedir que o maquinário sucumba à ferrugem.

Desta vez, metalúrgicos treinados para construir aparatos bilionários que extraem petróleo do fundo do mar farão um serviço reverso: transformar o colosso de aço em sucata para a indústria siderúrgica.

A nova operação do estaleiro devolveu um sopro de otimismo a um dos mais antigos municípios gaúchos. De 2005 a 2016, o polo naval transformou Rio Grande num eldorado. A economia local crescia 20% ao ano, fazendo o Produto Interno Bruto quadruplicar.

A sucessão de escândalos envolvendo a Petrobras fez escassear os contratos e a regularidade dos pagamentos. O estaleiro da QGI, construído pela construtora Queiroz Galvão e a Iesa Óleo e Gás, foi o primeiro a fechar as portas. O Estaleiro Rio Grande, pertencente à Ecovix, demitiu 3,2 mil trabalhadores num único dia e entrou em recuperação judicial. O Estaleiro EBR, na cidade vizinha de São José do Norte, foi o único a continuar operando.

Com um passivo de R$ 8 bilhões em dívidas, desde então a empresa busca diversificar as atividades. Após dois anos praticamente paralisado, o estaleiro passou a cortar navios para transformar em sucata, fazer reparos navais e aproveitou a estrutura de cais para operações portuárias.

A chegada da plataforma P-32, em dezembro, abriu um novo foco de atuação. Primeira unidade da Petrobras a passar por um processo de desmontagem sustentável, a plataforma foi adquirida pela Gerdau no ano passado e será desmanchada para que os painéis de aço sejam reciclados na usina da siderúrgica em Charqueadas, na Região Carbonífera. O trabalho vai durar um ano e gerar 200 empregos diretos. Por ora, mergulhadores operam cordas com diamantes no corte do enrijecedor, uma peça de 4,67 metros acoplada no fundo do navio.

A Gerdau já arrematou outra plataforma, a P-33, cuja chegada a Rio Grande está prevista para o segundo semestre. As duas unidades serão desconstruídas lado a lado no dique, com a abertura de mais 200 vagas.

Ao todo, o programa de desmantelamento da Petrobras está orçado em US$ 9,6 bilhões, com o desmanche de 26 plataformas. Ávila diz que a iniciativa é uma oportunidade diante da estagnação do setor, mas ainda insuficiente para significar retomada do polo local.

Em Rio Grande, não há ilusão de que os estaleiros voltem a induzir a prosperidade da década passada. Contudo, empresários, trabalhadores e autoridades nutrem a expectativa de que a Petrobras retome os incentivos à produção de plataformas em território nacional. Em visita ao município em maio de 2023, o presidente da estatal, Jean Paul Prates, firmou compromisso de que irá recuperar os estaleiros da região.

Em dezembro, o Conselho Nacional de Política Energética elevou a exigência de conteúdo local de 18% para 30% na exploração e de 25% para 30% na produção de petróleo em blocos marítimos. Embora os percentuais ainda estejam distantes dos índices de até 85% que turbinaram a economia rio-grandina na década passada, há esperança de novos investimentos.

Após o ocaso do polo naval, em 2016, a exigência de conteúdo local foi apontada como principal causa da derrocada do setor. Os incentivos governamentais teriam encarecido a produção nacional e endividado a Petrobras, que financiou os estaleiros do país em detrimento da alta competitividade dos similares asiáticos.

Reitor da Fundação Universidade Federal do Rio Grande e primeiro presidente do Arranjo Produtivo Local Marítimo, Danilo Giroldo, concorda que é possível corrigir equívocos e alcançar percentual mais equilibrado de conteúdo local. Contudo, ele rejeita a impressão cristalizada no país de que a política fracassou:

— Não existe indústria naval sem subsídio estatal. É assim que se mantém a indústria americana, canadense, porque emprega muita gente e tem alto valor agregado. Aqui ficou uma ideia geral de que a indústria não era competitiva e não tinha capacidade. Isso não se coaduna com a realidade.




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