O Velho Lobo, o Formiguinha, o Senhor Copa, o Apóstolo do 13, todos morreram nesta sexta-feira (5). Encerrou-se, à noite, uma das trajetórias mais vitoriosas da história do futebol brasileiro. Foram tantas taças, tanta relevância para o esporte que, para pavimentar essa caminhada opulenta, parecia necessário reunir um grupo de craques. Mas os quatro apelidos recém-citados, o leitor bem sabe, pertenciam ao mesmo homem: Mario Jorge Lobo Zagallo.
A morte do ex-jogador e técnico da Seleção Brasileira, aos 92 anos, foi confirmada por meio de postagem em seu perfil oficial no Instagram, na madrugada deste sábado (6). "Um pai devotado, avô amoroso, sogro carinhoso, amigo fiel, profissional vitorioso e um grande ser humano. Ídolo gigante. Um patriota que nos deixa um legado de grandes conquistas", diz a publicação.
Homem de choro fácil e superstições anedóticas, Zagallo aliou inteligência e patriotismo para sagrar-se o único tetracampeão mundial de futebol. Ninguém no planeta ganhou tantas Copas quanto ele. Em 1958 e 1962, venceu a competição como um moderno ponta-esquerda; em 1970, como treinador de uma Seleção quase imbatível; em 1994, como coordenador técnico no estilo que o consagrou nos últimos tempos.
Foi assim no episódio do "vocês vão ter que me engolir", em 1997, quando ele voltou a treinar a Seleção e ganhou a Copa América sob críticas de parte da imprensa. Seus arroubos de impaciência eram frequentes quando alguém, mais do que mexer com Zagallo, inventava de mexer com o Brasil.
Em 1958, na Copa da Suécia, o ponta-esquerda voltava de um treino quando percebeu que, na frente do hotel, todas as bandeiras tremulavam lado a lado, menos a brasileira. Foi pedir satisfação na gerência e ficou furibundo ao descobrir que haviam colocado a bandeira de Portugal no lugar da verde-amarela. Sapateou até colocarem a certa.
Naqueles tempos, final dos anos 1950, a crônica esportiva o chamava de Formiguinha. Veloz e franzino, revolucionou o esquema tático ao recuar da ponta-esquerda para ajudar na marcação e povoar o meio-campo. Não era brilhante, mas trabalhava feito formiga na grama — e, em uma Seleção com Pelé, Garrincha, Didi e Nilton Santos, não era de outro brilhante que o time precisava.
Em seus 92 anos de vida, o alagoano Zagallo talvez nunca tenha sido o melhor. Mas sempre soube o que fazer para tornar-se o maior.