A Polícia Civil prendeu preventivamente, nesta terça-feira (9), a administradora do Hospital Adesco, o único do município de Humaitá, no noroeste do Estado. A instituição foi alvo da Operação Majestade, que apurou supostas irregularidades cometidas pela gestão do local. GZH apurou que a profissional presa é Daniela de Azevedo.
Nesta quarta-feira (10), o delegado William Garcez, responsável pelo inquérito, concedeu mais detalhes sobre o caso em entrevista coletiva na Delegacia de Crissiumal. Segundo ele, o hospital fraudava os dados repassados ao Sistema Único de Saúde (SUS) para receber mais verbas e, além disso, cobrava de pacientes por exames e medicamentos que deveriam ser fornecidos de graça, justamente por serem custeados pelo SUS. As irregularidades foram registradas entre 2019 e 2022.
O delegado explica que a gestão do Hospital Adesco adicionava consultas particulares na tabela do SUS e, assim, cobrava duas vezes pelo mesmo atendimento. O caso que mais chamou a atenção do delegado foi o de eletrocardiogramas, que eram sempre cobrados dos pacientes, mas, ao mesmo tempo, eram computados para que o SUS pagasse.
Além disso, o inquérito aponta fraudes quanto ao processo de internação. Enquanto alguns pacientes ficavam apenas um dia sob cuidados médicos, o hospital registrava a internação por até três dias. As fichas de evolução do paciente eram preenchidas depois de a pessoa já não estar mais em atendimento.
Durante os depoimentos, a investigação apurou que pacientes eram informados de que não podiam ser internados mais de uma vez no mesmo mês pelo SUS. Com isso, eram levados a pagar pela segunda internação. Essa regra não existe no sistema público de saúde.
— Ouvimos no mínimo 40 pessoas durante o inquérito e todas confirmaram os fatos — afirmou Garcez.
As irregularidades foram registradas inclusive em atendimentos de casos de covid-19. Conforme o delegado, a administração do hospital utilizava o mesmo documento para justificar o recurso recebido de duas fontes diferentes, do governo federal e do governo municipal. Outra vez, ocorria a cobrança dobrada por um único procedimento.
Em auditoria realizada pelo SUS, foi solicitado à gestão os documentos que justificavam a quantidade de atendimentos computados na tabela. A administradora, então, registrou um boletim de ocorrência por furto da papelada com esses dados. A ação foi entendida pelo delegado como uma falsa comunicação de crime e uma estratégia de burlar a fiscalização.
Os crimes apontados pela investigação são falsidade ideológica, associação criminosa, estelionato contra a administração pública, peculato e concussão (exigir vantagem indevida).
Além de Daniela de Azevedo, a Polícia Civil indiciou o presidente do Hospital Adesco, pai da administradora, e a secretária do hospital, nora dela. Quanto aos dois últimos, a Justiça determinou medida cautelar de afastamento.
O prefeito de Humaitá, Paulo Antônio Shwade, comenta que o município enfrenta dificuldades históricas com a gestão do hospital. De acordo com o político, a instituição recebe repasses da gestão municipal, mas a prefeitura não tem gerência sobre o grupo que administra o Adesco.
— Nós repassamos um bom valor, mas temos pouco retorno. É uma coisa muito difícil — afirma Shwade.
Ainda conforme o prefeito, somente para custear o plantão noturno, o valor destinado ao hospital era de R$ 58 mil, mas, mesmo assim, os pacientes precisavam ser levados para atendimento em Tenente Portela, a 60 quilômetros de distância.
— Quase não atendiam ninguém de noite. Estamos fazendo um grande esforço para o hospital não fechar — comenta o prefeito.
A reportagem tentou contato com o hospital por ligação telefônica, mas, até a publicação da reportagem, não obteve retorno. A defesa de Daniela de Azevedo ainda não foi localizada.