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Lavouras de fumo têm três produtores na 'lista suja' do trabalho escravo

Durante o período de colheita, fumicultores acordam a cada duas horas para alimentar estufas usadas para secar fumo e não sabem quanto ganharão no fim da safra

Publicada em 24/02/2023 às 08:19h

Sul 21


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Marina
cresol

Lavouras de fumo têm três produtores na 'lista suja' do trabalho escravo

Com a imagem associada à rica indústria do tabaco, lavouras de fumo costumam ser mostradas como propriedades prósperas e bem organizadas. A generalização, porém, é uma falsidade. Em alguns casos, as condições de trabalho são tão precárias que levaram fumicultores a integrar o cadastro de empregadores que submeteram pessoas a condições análogas à escravidão. Atualmente, três produtores de fumo do Rio Grande do Sul estão na chamada “lista suja” do trabalho escravo.

Em janeiro de 2021, uma fiscalização do Ministério do Trabalho resgatou três trabalhadores de condições análogas à escravidão na propriedade Torcato Junior Tatim, dono de uma lavoura de fumo em Fontoura Xavier, a 137 km de Santa Cruz do Sul (RS). Os resgatados moravam em barracos de madeira com chão batido construídos nos fundos da propriedade da família Tatim. Dois deles, mãe e filho, tinham deficiência intelectual e não sabiam ao certo há quantos anos moravam ali nem quanto recebiam de salário.

Segundo relatório produzido por auditores fiscais do Ministério do Trabalho, a qual a Repórter Brasil teve acesso, Tatim possuía contrato de venda de fumo com a Universal Leaf Tabacos Ltda, subsidiária brasileira da multinacional americana Universal Leaf. O produtor entrou na “lista suja” do trabalho escravo em maio de 2022.

De janeiro de 2021 a janeiro de 2023, a filial brasileira da Universal Leaf mandou o fumo adquirido pela empresa a produtoras de cigarros em 52 países, segundo dados alfandegários acessados pela Repórter Brasil. O principal destino foi a Bélgica, maior consumidor do tabaco brasileiro, seguido pela Indonésia e Estados Unidos.

A reportagem entrou em contato com o produtor Torcato Tatim e com a Universal Leaf, que não responderam até o fechamento deste texto. O espaço segue aberto para manifestações futuras.

Os outros dois fumicultores citados na “lista suja” do trabalho escravo são de propriedades localizadas no município gaúcho de Venâncio Aires, o quarto maior produtor de fumo do país conforme o último dado disponível. O primeiro caso foi de um trabalhador resgatado em 2019. A segunda ocorrência, também com um trabalhador libertado, é do ano seguinte.

Durante dez anos, entre 2011 e 2021, foram realizadas apenas seis fiscalizações em propriedades de fumo – quatro no Rio Grande do Sul e duas em Santa Catarina. Nessas operações, 41 trabalhadores foram resgatados, de acordo com dados do Ministério do Trabalho sistematizados pela Repórter Brasil e pela Comissão Pastoral da Terra (CPT).

No Brasil, as indústrias do tabaco encontraram um vantajoso modo de aquisição de matéria-prima por meio de contratos de integração. Nesse esquema, a tabageira fornece os insumos necessários no início de cada safra, como sementes e agrotóxicos, e estima a quantidade necessária de fumo a ser entregue ao final para pagar esse adiantamento. O que sobra é lucro para as famílias. O problema é que nem sempre há sobras e o fantasma da dívida perturba o sono das famílias fumicultoras.

“Sempre deu pra se escapar. Meio apertado, mas sempre deu e sobrou um pouco para passar o ano”, explica João, fumicultor dono de 87 mil pés de tabaco em Santa Cruz do Sul (RS). Na última safra, ele e os dois filhos, de 23 a 26 anos, venderam a produção para a China Brasil Tabacos, que pagou quase R$ 300 pela arroba de fumo seco, o equivalente a 15 quilos do produto. O valor pago foi alto – e atípico. Por conta das chuvas em Santa Catarina, a oferta do produto diminuiu e os produtores gaúchos e paranaenses receberam mais que o esperado. Na safra anterior, o preço mínimo pago pelo fumo de melhor qualidade foi de R$ 188 a arroba.

João é um nome fictício. O verdadeiro nome do fumicultor e de todos os demais trabalhadores e produtores entrevistados pela reportagem foram ocultados neste texto para evitar represálias, como o cancelamento do contrato de venda de fumo.

Para Joaquim, produtor com contrato com a Philip Morris no município de Vale do Sol (RS), a última safra “deu esperança” para muitos fumicultores. “Ano passado a compra do fumo não dava pra reformar um galpão, não sobrava pra manter as outras coisas. Com o valor pago pela arroba esse ano muita gente conseguiu ao menos sair das dívidas, conseguiu dar uma estabilizada. Tinha muito colono endividado”.

 A esperança de que “ano que vem vai ser melhor” tem mantido as famílias na atividade, avalia Luiza Damigo, orientadora da Associação Agricultura Familiar e Agroecologia (AS-PTA) em Palmeira (PR). “A gente sempre escuta: ‘ah, mas ano que vem vai ser melhor assim, mas ano que vem vai recuperar’. Às vezes, vem um ano que dá muito bom, e a família decide continuar, porque sente que equilibrou.”

Emerson Rech, 30 anos, é filho de fumicultores e vive em Rio Pardo (RS), onde produz hortaliças e frutas orgânicas na praça central do município. A facilidade de escoamento da produção em áreas distantes dos centros urbanos e a garantia de compra – ainda que a classificação da qualidade do fumo seja definida apenas pela indústria  – são fatores que fixam os produtores no setor, avalia. “No sistema integrado, a empresa fornece os insumos, garante a compra e o caminhão vem buscar na propriedade. Acaba acomodando o produtor nesse sistema”.




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