Se as chuvas previstas vierem em fevereiro, uma produção acima do estimado inicialmente para a olivicultura, de 500 mil litros de azeite, está garantida, como afirmou o coordenador do programa Pró-oliva da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), Paulo Lipp. A produção esperada para este ano é 11,6% maior que a do ano passado, de 448 mil litros, que já foi 121% maior que a de 2021, de 202 mil litros.
Lipp, o presidente do Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), Renato Fernandes, e o secretário da Agricultura, Giovani Feltes, estiveram na Seapi nesta quarta-feira em coletiva de imprensa anterior à 11ª Abertura da Colheita da Oliva, que ocorre no dia 9 de fevereiro, em Encruzilhada do Sul. “Eu gostaria de frisar que, de todas as culturas que observamos no Estado, a que menos foi afetada (pela estiagem) é a olivicultura”, complementou Fernandes, na ocasião.
Com 6 mil hectares cultivados e 4 mil em produção (as oliveiras levam cerca de cinco anos para começar a produzir), o Rio Grande do Sul é responsável por 80% da produção nacional de azeite e teve um aumento de cerca 300 hectares em área de cultivo no último ano, de 5%, de acordo com estimativas do Ibraoliva. A produção no Estado começou em 2002 e os produtores já encontraram as melhores variedades, solos e manejos. Assim, o que resta como empecilho é a questão comercial, como afirma Fernandes. “Existe uma dificuldade de escoamento da nossa safra”, explica.
Segundo ele, isso ocorre em todo o Brasil, país que tem um consumo de 100 milhões de litros por ano, o que o faz o segundo maior consumidor de azeite de oliva do mundo, apenas atrás dos Estados Unidos. Desse consumo, 0,5% é da produção nacional, caracterizada por ser ainda baixa em quantidade e alta em qualidade. Todos os azeites produzidos no Brasil são extra virgens, ou seja, com características físico-químicas e sensoriais que os conferem o nível de qualidade considerado mais alto entre os azeites.
Mas, segundo Fernandes, esses produtos de alta qualidade - que renderam ao Estado 130 prêmios em 2022 - competem com azeites importados mais baratos, também classificados como extra virgens por uma avaliação físico-química, mas que não são realmente por não atenderem critérios de qualidade sensorial, o que é dificilmente identificável no Brasil por falta de painéis qualificados para fazer essa distinção. “O desafio é a deslealdade, porque azeites virgens são identificados como extra virgens e o preço do virgem não é o mesmo”, diz Fernandes. Segundo ele, esse problema pode ser vencido com informação que leve o consumidor a não só entender essa situação como se dispor a experimentar a produção nacional.
Ele também identifica nisso uma questão de saúde pública. “Um produto que não é e é dito como extravirgem está comprometendo a saúde daquelas pessoas que foram recomendadas a usar uma gordura de baixo nível de colesterol”, explica. “Então temos esse grande desafio de informar e defender o consumidor”, completa.
Com produção em 103 municípios, o Rio Grande do Sul já tem mais de 70 marcas de azeites e 18 lagares (local onde o produto é fabricado). Outra atividade que cresce no Estado é o olivoturismo, com dois principais empreendimentos, um em Gramado e outro em Viamão, que oferecem experiências gastronômicas e culturais e, juntos, recebem uma média de 40 mil visitantes por mês. “A oliva vem se expandido em diferentes regiões do Estado, é algo que vem evoluindo e, pela qualidade do azeite que a gente tem podido observar e experimenta, tem alcançado mercados e o reconhecimento nacional e internacional”, completou Feltes.