O secretário de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Weibe Tapeba, classificou como “operação de guerra” as ações de assistência emergencial necessárias ao povo Yanomami, em Roraima. “São aeronaves partindo, aeronaves chegando com pacientes com malária, infecções agudas, outras doenças. Nossa capacidade é limitada, mas temos conseguido mitigar esse cenário desolador”, afirmou o secretário nesta terça-feira (24).
Ele se refere a uma base em Boa Vista, de onde as medidas estão sendo coordenadas. Ali atua uma força nacional do SUS, que está recrutando mais médicos e profissionais de enfermagem. Um hospital de campanha está sendo construído no local.
Mas a situação de emergência em saúde exige a criação de um hospital de campanha também em Surucucu, na Terra Indígena Yanomami. Atualmente há a base de saúde indígena, unidade considerada de referência na região. No entanto, trata-se de um espaço precário, que consiste em um barracão de madeira, de chão batido.
Outra medida emergencial defendida pelo secretário é um plano de ação que inclua a melhoria de infraestrutura dos polos de saúde indígena, logística, insumos, medicamentos, equipamentos, água potável, energia e internet.
Garimpo estimulado por Bolsonaro destrói a saúde e a vida
Segundo Tapeba, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) colocou o aparato do Estado com ações de saúde a serviço do atendimento emergencial. E também as Forças Armadas, que têm participado com recursos humanos e profissionais da saúde para ampliar a capacidade de assistência.
O secretário chegou na região sábado (21), junto com o presidente Lula e a comitiva de ministros, secretários e médicos. No domingo, ele acompanhou o resgate de indígenas com quadro grave de desnutrição em uma comunidade dominada pelo garimpo ilegal.
A atividade ilegal estimulada no governo de Jair Bolsonaro (PL) é a principal causa da crise humanitária na terra indígena. Os garimpeiros trouxeram violência, medo e espalharam doenças, como a malaria. E também a fome. A atividade mineradora afasta a caça e o uso de mercúrio na extração de ouro contamina os rios, envenando os peixes e as pessoas que deles se alimentam.
Centenas de crianças mortas no governo Bolsonaro
Reportagem divulgada na última sexta-feira (21) pela plataforma Sumauma revelou que 570 crianças Yanomami morreram durante os quatro anos de governo Bolsonaro. Só em 2022, segundo o governo federal, foram 99. A maioria por problemas de saúde evitáveis, como desnutrição, pneumonia e diarreia.
Segundo a Urihi Associação Yanomami, coordenada pelo presidente do Conselho do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi-YY), Júnior Hekurari, 26 crianças e dois adultos foram resgatados durante a missão do Ministério da Saúde.
Tapeba estima em 30 mil a população Yanomami e em 20 mil os garimpeiros, mas ambos podem estar subnotificados, assim como o número de indígenas mortos.
“O estado brasileiro virou as costas para o povo Yanomami. Não teve a condição de assegurar a seguranças dos povos indígenas cujo território foi totalmente invadido pelos garimpeiros. Nem proteção territorial e algumas comunidades estão dominadas. Ao sobrevoar comunidades, visualizamos invasores armados. Entendemos que essas ações emergenciais são para salvar vidas, mas é urgente a remoção de todos os garimpeiros que invadiram aquele local”, disse.
Ações do governo federal
Mais cedo, em entrevista à Rádio Gaúcha, o secretário de Saúde Indígena disse que a ida de Lula foi fundamental para as articulações ministeriais que tem sido feitas. E destacou o decreto do Ministério da Saúde sobre a emergência do caso.
“A partir do decreto de emergência a gente tem condições de articular dotações orçamentárias. O presidente Lula ainda criou um gabinete ministerial de crise. As ações terão de ser conjuntas porque não é só saúde. É a proteção do território, é um plano ambiental”, destacou.