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Brasil

Posse de Lula é marcada por defesa da democracia, conciliação nacional e combate à desigualdade

Presidente se emocionou ao receber faixa e ao discursar sobre volta da fome ao país

Publicada em 02/01/2023 às 07:41h

GZH


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Marina
cresol

Posse de Lula é marcada por defesa da democracia, conciliação nacional e combate à desigualdade
Lula e Janja  (Foto: GZH)

Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse na tórrida tarde deste domingo (1º), em Brasília, aos 77 anos, como o primeiro brasileiro a ser eleito três vezes presidente da República pelo voto direto. Em meio a uma cerimônia marcada pelo clima pacífico, garantido por um forte esquema de segurança, ele se dirigiu ao país para reafirmar o compromisso com a democracia, com o combate às desigualdades sociais, e para promover a conciliação nacional depois de uma campanha eleitoral que legou um país dividido politicamente. 

Emocionado, Lula chorou ao receber a faixa presidencial de um grupo de brasileiros e ao mencionar o cenário de fome que assola parte da sociedade brasileira no parlatório da Praça dos Três Poderes.

— Sob os ventos da redemocratização, dizíamos "ditadura nunca mais". Hoje, depois do terrível desafio que superamos, devemos dizer "democracia para sempre" — afirmou Lula em seu primeiro pronunciamento oficial, logo após assinar o termo de posse ainda no Congresso.

Além de defender o respeito à vontade popular, o novo ocupante do Palácio do Planalto se dedicou desde o início da cerimônia de transmissão do poder a estabelecer as linhas gerais de seu próximo mandato, que terá o slogan "União e reconstrução". O percurso de Lula até o Planalto, cumprido pouco mais de três anos após deixar uma cela no prédio da Polícia Federal em Curitiba, em uma das maiores reviravoltas políticas da história brasileira, começou às 14h20min - quando deixou o hotel em que se encontrava hospedado rumo à Catedral de Brasília. Ali, subiu no tradicional Rolls-Royce para iniciar o trajeto até o Congresso.

De carro aberto, ao lado da mulher, Rosângela Silva, a Janja, do vice Geraldo Alckmin e de sua esposa, Lu Alckmin, desfilou acenando para a multidão que acompanhava as atividades. Recebido pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara, Arthur Lira, o grupo seguiu ao plenário para a leitura e a assinatura do termo de posse. 

Oficializado presidente de papel passado, Lula utilizou o primeiro pronunciamento para celebrar o processo democrático repetidas vezes:

— Se estamos aqui, é graças à consciência política da sociedade brasileira e à frente democrática que formamos. Foi a democracia a grande vitoriosa, superando a maior mobilização de recursos públicos e privados que já se viu, as mais violentas ameaças à liberdade do voto.

Entre as primeiras estratégias a serem adotadas, reafirmou a determinação de acabar com o teto de gastos - mas sob promessa de manter o "realismo orçamentário" - e confirmou a revogação de decretos que favoreceram o acesso da população às armas ao longo dos últimos quatro anos.

— Estamos revogando os criminosos decretos de ampliação do acesso a armas e munições, que tanta insegurança e tanto mal causaram às famílias brasileiras. O Brasil não quer mais armas, quer paz e segurança para seu povo — sustentou Lula.

Entre outras medidas anunciadas, prometeu respeitar a Lei de Acesso à Informação, que garante acesso público a dados oficiais, elaborar um novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) diante de um cenário de 14 mil obras paradas no país, revigorar programas sociais como o Minha Casa, Minha Vida, proteger o ambiente e incluir "os trabalhadores e os mais pobres no orçamento" e combater desigualdades de raça e de gênero. A estratégia do presidente foi fazer um discurso mais crítico ao antecessor Jair Bolsonaro no Congresso, e privilegiar os apelos por união nacional no pronunciamento que seria feito pouco depois no parlatório do Planalto.

— O diagnóstico que recebemos do Gabinete de Transição é estarrecedor. Esvaziaram os recursos da Saúde. Desmontaram a Educação, a Cultura, Ciência e Tecnologia. Destruíram a proteção ao Meio Ambiente. Não deixaram recursos para a merenda escolar, a vacinação, a segurança pública — declarou ainda no plenário.

Faixa presidencial e emoção

Após passar em revista as tropas das Forças Armadas e embarcar novamente no Rolls-Royce, a comitiva chegou pouco antes das 17h ao Palácio do Planalto. Com a cadela Resistência na coleira (referência ao período das vigílias em Curitiba, onde ela foi adotada), Lula finalmente subiu a rampa a fim de receber a faixa presidencial por meio de um protocolo inédito.

Como o antecessor Jair Bolsonaro havia deixado o cargo e o país dois dias antes rumo aos Estados Unidos, coube a um grupo de cidadãos comuns representativo da sociedade brasileira alcançar o adereço simbólico. Entre eles, havia uma mulher negra, um indígena, uma pessoa com deficiência, um metalúrgico, um professor e uma criança. Ao colocar a peça sobre o peito, Lula se emocionou e chegou a chorar.

O presidente voltaria a verter lágrimas alguns instantes depois ao falar, do parlatório, para a multidão à sua frente. A primeira manifestação em público como presidente empossado começou com mais uma referência ao período do cárcere no Paraná - quando era saudado diariamente por gritos em uníssono de "bom dia", "boa tarde" e "boa noite, presidente" de apoiadores acampados nas proximidades.

— Boa tarde, povo brasileiro — disse Lula, devolvendo o gesto como novo comandante do país.

À frente do Planalto, o foco das declarações do presidente passou a ser a necessidade de apaziguar um país rachado politicamente e reequilibrar profundas desigualdades sociais:

—Vou governar para os 215 milhões de brasileiros e brasileiras, e não apenas para quem votou em mim. Vou governar para todas e todos, olhando para o nosso luminoso futuro em comum, e não pelo retrovisor do passado. A ninguém interessa um país em permanente pé de guerra, ou uma família vivendo em desarmonia. É hora de reatarmos os laços com amigos e familiares, rompidos pelo discurso de ódio e pela disseminação de tantas mentiras. O povo brasileiro rejeita a violência de uma pequena minoria.

Às lágrimas, precisou interromper o discurso por alguns segundos quando abordou o tema da volta da fome no país.

— Há muito tempo não víamos tamanho abandono e desalento nas ruas. Mães garimpando lixo, em busca do alimento para seus filhos. Famílias inteiras dormindo ao relento, enfrentando o frio, a chuva e o medo. Fila na porta dos açougues, em busca de ossos para aliviar a fome. E, ao mesmo tempo, filas de espera para a compra de jatinhos particulares. Tamanho abismo social é um obstáculo à construção de uma sociedade justa e democrática, e de uma economia próspera e moderna — sustentou, logo após recuperar o fôlego.

Lula também observou que hoje, no Brasil, apenas 5% da população no topo da pirâmide social detêm a mesma fatia de renda dos 95% restantes. Enfatizou, novamente, a necessidade de sanar injustiças relacionadas a gênero ou raça - razões às quais atribuiu a criação dos ministérios da Igualdade Racial e das Mulheres. Também recordou iniciativas de suas gestões anteriores, como o combate à fome e a promoção do desenvolvimento econômico, e rechaçou temores de irresponsabilidade fiscal:

— Nos nossos governos, nunca houve nem haverá gastança alguma. Sempre investimos, e voltaremos a investir, em nosso bem mais precioso: o povo brasileiro.

 



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