Neste domingo (1º), acontecerá a maior cerimônia de posse presidencial da história do país. São esperadas delegações de 120 países para acompanhar o início do terceiro mandato de Lula da Silva. Além de acompanhar a cerimônia, muitos chefes de Estado também irão reunir-se com o presidente para afiançar as relações bilaterais.
Pelo menos 18 chefes de Estado confirmaram presença: Alemanha, Angola, Argentina, Bolívia, Cabo Verde, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Guiné-Bissau, Paraguai, Portugal, Suriname, Timor Leste, Uruguai, Venezuela, Zimbábue e Espanha, que enviará o rei Felipe VI. O antecessor, Jair Bolsonaro (PL) recebeu dez chefes de Estado e 18 delegações durante sua posse.
Entre os países da América do Sul, há maior expectativa sobre a possibilidade de reestabelecer projetos em campos estratégicos. Somente a Guiana Francesa e o Peru não estarão representados pelos seus presidentes. O Brasil de Fato elencou os temas centrais de cooperação com as maiores economias sul-americanas.
Na sua primeira coletiva de imprensa, o chanceler Mauro Vieira deixou claro que o objetivo da política externa do Brasil será "reconstruir pontes" e buscar a reaproximação com "nossos vizinhos sul-americanos" será prioridade para a diplomacia do próximo governo, garantindo o retorno do Brasil à Celac (Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos) e à Unasul (União Nações Sul-Americanas).
Argentina
O presidente Alberto Fernández foi o primeiro chefe de Estado a viajar ao Brasil depois do segundo turno das eleições presidenciais. "Lula é um homem de bem, é um líder na região. Estamos muito felizes", disse Fernández no dia 31 de outubro.
Fernández foi chefe de gabinete do ex-presidente Nestor Kirchner, por isso sua relação com Lula iniciou já em 2003.
A Argentina é o principal sócio comercial do Brasil na região e o maior aliado no Mercado Comum do Sul (Mercosul).
Somente nos primeiros nove meses de 2022, o Brasil exportou US$ 11,881 bilhões para a Argentina, representando um aumento de 35,9% em relação ao mesmo período de 2021. As importações brasileiras de produtos argentinos alcançaram US$ 9,705 bilhões, um aumento de 19,2%.
Em 2023, Argentina e Brasil irão presidir o Mercosul. Tanto o presidente Alberto Fernández, como o próximo ministro de Economia, Fernando Haddad, já sinalizaram para a disposição em intensificar o comércio intrabloco e discutir a criação de uma moeda sul-americana: a Sur.
Bolívia
O presidente boliviano Luis Arce viajou ao Brasil em plena campanha eleitoral, em setembro, para reunir-se com Lula, o ex-chanceler Celso Amorim e o então candidato a governador, Fernando Haddad.
"Há muita esperança com o novo governo, queremos abordar temas de agenda regional e também reconsturir nossa agenda bilateral com o Brasil, que durante os últimos quatro anos foi paralisada", disse Arce a meios locais.
Agora a vice-ministra de comunicação da Bolívia, Gabriela Alcón, já confirmou que a prioridade da reunião será discutir a retomada de laços comerciais com o Brasil e levantar informações sobre a proteção de ex-ministros golpistas da gestão de Jeanine Áñez no território brasileiro.
Outro tema estratégico para o diálogo com a Bolívia é a relação entre a Petrobrás e a YPFB (Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos).
As empresas vivem uma polêmica por um contrato assinado durante a gestão da ex-presidenta golpista Jeanine Áñez. O acordo previa que a YPFB pagasse pelo transporte de gás ao Brasil no lado boliviano do gasoduto Gasbol, gerando um custo de cerca de US$ 70 milhões por ano. Pelas divergências entre as duas estatais, hoje o Brasil recebe apenas 4 milhões de m³ diários, 10 milhões de m³ a menos do que o contratado.
Em abril deste ano, a Bolívia reduziu 30% do abastecimento de gás ao Brasil, preferindo exportar para a Argentina, que agora recebe 14 milhões de m³ de gás por dia do país vizinho. “Não se trata de um complô socialista, é uma questão de oportunidade comercial”, declarou o ministro boliviano de Energia e Hidrocarbonetos, Franklin Molina.
O preço pago pelos argentinos pela cota extra de gás foi de US$ 20 o milhão de BTU — ante os cerca de US$ 7 o milhão de BTU pagos pelo Brasil.
Além disso, a Bolívia faz parte do chamado Triângulo do Lítio, junto a Argentina e Chile, concentrando 68% das reservas deste mineral na região. Uma das orientações previstas no último plano econômico da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) é a industrialização da cadeia do lítio, unindo esforços entre os países com as maiores reservas e as nações mais industrializadas da região.
Chile
O presidente chileno, Gabriel Boric, viaja a Brasília com a expectativa de manter o comércio bilateral.
Em 2022, o fluxo comercial Brasil-Chile totalizou US$ 11,421 bilhões, com um saldo favorável à parte brasileira em US$ 2,547 bilhões.
Logo após a vitória no dia 30 de outubro, o presidente chileno telefonou para Lula e diz que o Chile tem ‘muito o que aprender’ com o petista. Nas redes sociais, Boric escreveu que “seu triunfo é uma alegria para a América Latina e para o mundo”.
Colômbia
O recém eleito Gustavo Petro irá marcar presença na cerimônia de posse em Brasília. A vice-presidenta Francia Márquez também esteve no Brasil durante a campanha eleitoral, manifestando esperança sobre a possível vitória de Lula.
Francia veio conhecer de perto as experiências das políticas de inclusão social e as ações afirmativas para levar ao Ministério da Igualdade e Equidade, chefiado por ela na Colômbia.
Além disso, a pauta ambiental é outro assunto que deve rondar os debates entre os presidentes dos dois países.
Saiba mais: Pauta ambiental deve dominar nova agenda de integração entre progressistas na América do Sul
Já na COP27, celebrada em novembro no Egito, Lula propôs convocar uma reunião da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), que inclui o Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Suriname, Guiana, Colômbia e Venezuela. Os presidentes Gustavo Petro e Nicolás Maduro (Venezuela) já concordaram com a convocatória de uma cúpula sul-americana entre todos os países que possuem partes da Floresta Amazônica em seus territórios.
"Falamos sobre o assunto antes, mas agora com a posse esperamos fazer uma política multilateral com os dois estados, incluindo a Venezuela, e certamente se uniriam Bolívia e Peru, no esforço comum de resgatar a Floresta Amazônica", disse Petro a meios locais colombianos.
Venezuela
A grande novidade é a possível presença do presidente venezuelano, Nicolás Maduro. Na última quinta-feira (29), com autorização de Jair Bolsonaro, o governo revogou a portaria de 2019, que impedia a entrada de Maduro ao Brasil. No entanto, a embaixada ainda não confirmou se o chefe de Estado estará na cerimônia.
Com os venezuelanos, além da questão ambiental e a proteção da Amazônia, também há interesse na questão energética.
A Venezuela possui a maior reserva certificada de petróleo do mundo, cerca de 303 bilhões de barris. O óleo é do tipo pesado, similar ao encontrado no pré-sal brasileiro, o que poderia ser favorável para fomentar o intercâmbio tecnológico para extração e desenvolvimento da indústria petroquímica.
Além disso, as hidroelétricas do sul do território venezuelano forneciam cerca de 80% da energia elétrica consumida no estado de Roraima. Com a gestão de Bolsonaro essa relação foi interrompida e agora o estado depende de termoelétricas para o fornecimento de energia. Aproximadamente 1 milhão de litros de óleo diesel são gastos por dia para manter o fornecimento no estado, o que representou um aumento de cerca de 200% na conta de luz.
Edição: Glauco Faria