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Brasil

Em crise de identidade, MDB gaúcho adota majoritariamente voto em Onyx Lorenzoni

'Estamos dando um mau exemplo de unidade partidária', defende o ex-governador Germano Rigotto

Publicada em 25/10/2022 às 17:44h

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Marina
cresol

Em crise de identidade, MDB gaúcho adota majoritariamente voto em Onyx Lorenzoni
 (Foto: Reprodução da web)

Dizer que o MDB do Rio Grande do Sul rachou no segundo turno das eleições de 2022 é um eufemismo para a crise de identidade do partido: decisivo no combate e derrocada da ditadura no final dos anos 1980, herdeiro de Ulysses Guimarães, o MDB gaúcho radicalizou a posição de 2018, quando criou o bordão Sartonaro, e migrou em peso para a candidatura à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Mais grave: ignorando a aliança em torno do ex-governador Eduardo Leite (PSDB), de quem ocupa a vaga de vice-governador com o deputado estadual Gabriel Souza, os principais líderes do partido no Estado decidiram apoiar o ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL) para o governo gaúcho, em detrimento da decisão tomada na convenção estadual realizada no final de julho. De Pedro Simon a Sebastião Melo, de Osmar Terra a Alceu Moreira, o partido em peso foi guindado à condição de bolsonarista.

“Não vou discutir publicamente a posição de ninguém, mas não dá para entender posições contrárias ao que foi definido na convenção estadual. Não tem lógica. Estamos dando um mau exemplo de unidade partidária e sendo contraditórios com a nossa história, com o que sempre defendemos”, apontou o ex-governador Germano Rigotto.

Na segunda-feira (24), Souza reuniu um grupo de deputados, prefeitos, vice-prefeitos e vereadores do MDB para contrapor a debandada de aliados para o colo do bolsonarismo. Rigotto estava lá em apoio à decisão da convenção, assim como o ex-prefeito de Porto Alegre José Fogaça. Foi dele o alerta mais agudo da tarde: “Desta posição que estamos assumindo depende a sobrevivência do MDB. Estamos no caminho certo”, advertiu.

A reunião de apoio a Souza reuniu também o ex-governador José Ivo Sartori e o ex-vice governador José Paulo Cairoli, além do ex-ministro Eliseu Padilha. Em nota, o grupo afirmou que qualquer posição que contrarie a decisão convencional do MDB é “dissidente e ilegítima” e não representa a posição do partido.

Mesmo que mantenha neutralidade na eleição nacional, em que pese ter sido um dos coordenadores do programa de governo da candidata do MDB à presidência, Simone Tebet, que declarou voto no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Rigotto é taxativo em relação ao pleito estadual. “Tenho convicção de que o projeto [do ex-governador Eduardo Leite] é o único que tem a ver com a história do MDB e que representa a continuidade de políticas em favor do estado”, diz ele.

O candidato a vice não quis comentar a adesão. Pelo Twitter, na última sexta-feira (21), Gabriel Souza preferiu ser irônico. “O MDB ético não apoia caixa 2 [em referência a episódio envolvendo Lorenzoni]. O MDB do bem não apoia discurso de ódio, do preconceito e da divisão. O MDB do Rio Grande do Sul não apoia quem defende o desmonte do programa iniciado pelo governo de Sartori. Estamos do lado certo da história”, escreveu.

O presidente do diretório estadual, Fábio Branco, defendeu respeito à decisão da convenção estadual. “Aos diretórios municipais não é facultada posição diferente dessa. O MDB gaúcho é um partido que respeita divergências internas, desde que observem a democracia partidária. O legado do nosso partido está em jogo”, reforçou. Ambas lideranças, entretanto, sabem que não há nada a fazer.

As opiniões de Rigotto e Branco contrastam com o posicionamento da cúpula do MDB gaúcho, que em ato político na última quinta-feira (20) anunciou apoio a Bolsonaro e a Lorenzoni. O encontro ocorreu no comitê de campanha do ex-ministro de Bolsonaro. Uma semana antes, no dia 14, o diretório municipal já havia decidido apoiar a dobradinha no Estado em detrimento da convenção estadual do partido.

“O MDB do RS sempre foi uma referência política para o Brasil, um partido que carregou o legado ético de grandes líderes, forjou a democracia e teve um papel fundamental em grandes conquistas. Nossa decisão levou em conta esse legado de ética, decência e integridade”, resumiu o deputado estadual Tiago Simon. Ele representou o pai, o ex-senador Pedro Simon, no ato em apoio a Bolsonaro e Lorenzoni, que também teve a adesão do empresário Luis Roberto Ponte – emedebista tradicional.

Simon, o filho, acusou a atual direção de se “descolar” da história do partido ao permitir manobras políticas motivadas por interesses pessoais. “Digo isso com tristeza, mas nesses últimos quatro anos a condução do MDB gaúcho se afastou de suas referências, descolou de sua história e permitiu que, em vários momentos, compromissos políticos firmados publicamente fossem rompidos”, explica.

Entre esses princípios apontados por Simon está o apoio à candidatura de Eduardo Leite, rompendo uma tradição de manter a cabeça de chapa com o partido. Na convenção de julho, o grupo que defendia a candidatura própria foi derrotado por apenas 27 votos num universo de mais de 400 convencionais. “O projeto liderado pelo atual governo estadual não tem conexão com nossa identidade nem com nossos princípios e valores. E por isso não me representa”, justifica o deputado, que não se reelegeu em 2022.

O presidente da Fundação Ulysses Guimarães, deputado federal reeleito Alceu Moreira, não participou do ato de apoio a Lorenzoni, mas já anunciou publicamente seu voto ao ex-ministro bolsonarista. Deputado mais votado do MDB no Estado, Moreira acusa o candidato a vice-governador de traição – o parlamentar reeleito gostaria de ter sido o indicado do MDB ao governo do RS. “De um lado tem o Onyx. Do outro, alguém que me apunhalou pelas costas sem dó nem piedade. Não esperem apoio de mim, seria hipocrisia”, disse.

Segundo mais votado do partido no Rio Grande do Sul, Osmar Terra também ignorou as tradições democráticas do partido e se aliou à candidatura bolsonarista no Estado. “O Onyx é o grande parceiro do Bolsonaro aqui no Rio Grande do Sul”, justificou. Confrontado com as posições autoritárias de ambos, Terra refutou: “O presidente representa a ética e o Brasil decente”, disse.

Mesmo quem não se alinha com a ala bolsonarista – e majoritária – do partido evita bater de frente com as lideranças tradicionais. O ex-governador José Ivo Sartori não comentou o racha partidário. Sem citar os apoios públicos a Lorenzoni, o deputado estadual Juvir Costella pediu respeito às decisões internas do partido. “O verdadeiro MDB respeita sua história e as decisões democráticas do partido. O verdadeiro MDB é aquele que fica ao lado da democracia”, afirmou.

O deputado federal reeleito Márcio Biolchi preferiu ser enigmático. Segundo ele, o MDB em geral pensou mais no Rio Grande do Sul e menos no próprio partido. “O MDB gaúcho sempre foi um espaço democrático e comprometido com o Estado. E também colocou o partidarismo no seu devido lugar, abaixo daquilo que nos une”, referiu.




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