O cantor Seu Jorge divulgou na noite desta segunda-feira (17) um vídeo em que se manifesta pela primeira vez sobre as denúncias de atos racistas que ocorreram durante sua apresentação em uma festa do clube social Grêmio Náutico União na última sexta-feira (14).
Seu Jorge começa o manifesto, gravado em frente a uma bandeira do Rio Grande do Sul, saudando qualidades do Estado, como ser terra de Ronaldinho Gaúcho e Mano Menezes, do escritor Luis Fernando Verissimo, da cantoria Elis Regina, do violonista Yamandu Costa, dizendo que sempre amou se apresentar no Estado. “Eu tenho enorme respeito ao Estado do Rio Grande e a toda a sua gente”.
Na sequência, começa a fazer o relato dos eventos da última sexta. “Era um jantar de gala com pessoas muito, mas muito bem vestidas para aquela ocasião. Um evento reservado somente para sócios do clube. Particularmente, não percebi nenhum pessoa negra no jantar”, disse.
Seu Jorge diz que as únicas pessoas negras que encontrou foram funcionários, mas que “ouviu dizer” que estes estariam proibidos de olhar ou falar com ele na chegada ao show. “O importante é que, no final do show, eu falei com todo mundo, abracei todo mundo e tirei foto com todo mundo”.
O cantor diz que, na verdade, estava empolgado com o evento, porque fazia tempo que não se apresentava em Porto Alegre com a sua banda. “Estávamos todos muito felizes quando chegou ao final do show e eu sai do palco. Quando cheguei atrás do palco, eu começo a escutar muitas vaias e xingamentos. E logo, por conta disso, eu percebi que não seria possível voltar para fazer o famoso bis. Mas, sozinho, retornei ao palco e, de maneira respeitosa, agradeci a presença de todos, me despedi do público presente e me retirei do local do show”, disse.
Após o show da última sexta no União, relatos foram publicados na internet dizendo que as manifestações racistas ocorreram após Jorge apresentar em seu show um membro de sua banda, um adolescente de 15 anos que toca cavaquinho, e fazer um discurso de que o Brasil não deveria discutir a redução da maioridade penal, mas sim dar oportunidades para os jovens.
Segundo os relatos, parte do público começou então a vaiar, a fazer sons imitando macacos, gritar palavas de ordem como “negro vagabundo” e “mito, mito”, em referência a Jair Bolsonaro.
“Na verdade, o que eu quero dizer aqui é que eu não reconheci a cidade que eu aprendi a amar. Não era a cidade que eu conhecia, dos inúmeros shows com as bandas amigas, O Rappa, Planet Hemp, Farofa Carioca e por aí vai. (…) Na verdade, o que eu presenciei foi muito ódio gratuito e muita grosseria racista”, disse o cantor no vídeo.
Seu Jorge então relata que recebeu muitas manifestações de apoio de muitas pessoas de Porto Alegre que se sensibilizaram com o episódio e mandaram mensagens nos últimos dias. “É muito bom saber que, mesmo depois de tudo isso, a nossa conexão não rompeu e não se romperá e agora estaremos bem mais fortes e unidos, cada vez mais, na luta intensa contra o racismo e toda forma de preconceito e de discriminação”, disse.
Dirigindo-se ao povo negro do Rio Grande do Sul e da região Sul do Brasil, o cantor disse que está unido para vencer a guerra que “segrega o nosso povo à miséria e à falta de oportunidade”.
Ao final, ele conclama a “nação afrobrasileira” a participar de movimentos sociais que lutam pelos direitos da população negra no combate ao racismo e as violações de seus direitos.