Quando terminar o capítulo desta quinta-feira da novela "Pantanal", que está em seus momentos decisivos, a TV Globo vai exibir outro programa que promete deixar muita gente ligada na telinha: o último debate entre os candidatos à presidência. Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Soraya Thronicke (União Brasil), Felipe D'Avila (Novo) e Padre Kelmon (PTB) foram convidados e confirmaram presença.
Ao contrário de debates de outras emissoras, que contaram com perguntas de jornalistas, as regras para o programa da Globo preveem apenas perguntas diretas entre os candidatos. No primeiro e no terceiro blocos, os temas serão livres. No segundo e no quarto, os temas serão sorteados. O quarto bloco terá, ainda, tempo para as considerações finais.
O debate desta noite, programado para começar às 22h30, será o terceiro organizado por emissoras de televisão, e o primeiro que reunirá os sete postulantes cujos partidos têm representação no Congresso Nacional. No primeiro encontro, na Band, Kelmon não compareceu. Ele ainda não era candidato, pois o PTB inicialmente indicou o ex-deputado federal Roberto Jefferson, que depois teve a candidatura impugnada.
Já no segundo debate, organizado pelo SBT, Lula preferiu não comparecer. Um dos motivos apontados pelo próprio petista para negar o convite foi justamente a participação do candidato do PTB. "Tem gente nova que eu não conheço. Faz uma semana que entrou um candidato que eu sei nem quem é. Então, eu precisava estudar essa biografia desse cidadão, o histórico político dele, o que ele já fez", disse o ex-presidente em visita a Ipatinga (MG) na última sexta-feira (23).
Se mantiver a postura do encontro com os candidatos na emissora de Silvio Santos, Kelmon cumprirá o papel de aliado direto de Bolsonaro. O cientista político Francisco Fonseca, professor da PUC-SP e da FGV-SP, alerta que Lula será o alvo preferido.
"[Acredito que veremos] Bolsonaro tentando, na sua estratégia de violência, inclusive verbal e simbólica, atacar o ex-presidente Lula de qualquer maneira; o Ciro Gomes, que se transformou também numa espécie de linha auxiliar do bolsonarismo, e o tal do Padre Kelmon, que sequer é padre mas, enfim, tá aí simplesmente pra isso, pra barbarizar", destacou Fonseca em entrevista à Rádio Brasil Atual.
Fonseca acredita que o petista deverá ter na Globo postura diferente da adotada no debate da Band onde, para o cientista político, o líder das pesquisas "jogou parado". Lula deve adotar "uma estratégia de tentar, sem entrar nas 'cascas de banana', nas armadilhas que serão colocadas, ser mais incisivo aos seus adversários e apostar em propostas, se diferenciando dos ataques", apostou.
Para Fonseca, os debates têm hoje papel menos relevante que em eleições anteriores, e o encontro mediado por William Bonner não deve ter grande influência nas intenções de votos para os principais candidatos.
"Não estou dizendo que [debates] não sejam importantes, mas já foram muito mais importantes na história brasileira do que são agora", afirmou. "É muito menos um debate, e muito mais uma tentativa de estabelecer lances, pra serem, esses lances, a favor dos candidatos, veiculados em outras mídias. É um pouco essa ideia."
A movimentação das redes sociais durante e depois dos debates anteriores ilustra a afirmação do cientista político. Os chamados "cortes", trechos destacados de falas favoráveis aos candidatos, são explorados pelas equipes de campanha e pelos apoiadores.
Foi comum, tanto nos debates presidenciais quanto nos encontros entre postulantes aos governos estaduais, ver candidatos participantes usando a câmera para chamar eleitores a conferir sites, ferramentas de busca ou redes sociais na internet.
Já na manhã desta quinta, apoiadores de Lula usavam a hashtag #LulaNaGlobo para mobilização. A ideia é manter o movimento até depois do encerramento do programa. Ainda na quarta-feira, a página oficial do candidato no Twitter convidou os eleitores a se juntar a grupos do Whatsapp para acompanhar as discussões.
Além da página de Lula, a candidatura de Soraya Thronicke também foi às redes para convidar eleitores a acompanharem o debate desta quinta na emissora carioca.
Já o perfil de Simone Tebet preferiu compartilhar mensagens de apoiadores usando a hashtag #debatenaglobo.
O tema, porém, não ficou restrito a quem concorre à presidência. Outros candidatos tentam surfar, nas redes sociais, na onda da expectativa provocada pela reunião dos candidatos à presidência. Entre eles o ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro, candidato ao senado no Paraná. Na tentativa de ultrapassar o ex-aliado Alvaro Dias nas pesquisas, ele procura se colocar como oposição ao PT. "Hoje vou acompanhar o debate da Globo. Serei o detector de mentiras do Lula. Tenho experiência", postou, sem explicitar sobre qual experiência falava.