As queimadas na Amazônia na primeira semana de setembro, que teve o Dia da Amazônia, superam a de todo o mês de setembro de 2021. Entre os dias 1º e 7, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou 18.374 focos de incêndio. O número supera os 16.742 focos de todo o mês de setembro do ano passado. Segundo o instituto, até agora o bioma teve 64 mil focos de incêndio em 2022. O dado confirma a superação, desde maio, de todos os números de 2021, que teve um total de 75.090 registros.
Imagens de satélite mostram nuvem de fumaça provocada pelas queimadas, que há dias se espalha pelo Brasil, chegando a países vizinhos. Na segunda-feira, a dispersão do rastro de fumaça atingiu o Acre, Amazonas, Rondônia, Roraima, Mato Grosso e Pará. Nesta quarta-feira (7), atingiu São Paulo, Paraná e Bolívia. Em Rio Branco, no Acre, a poluição atingiu níveis 13 vezes maiores que o recomendado pela Organização Mundial da saúde (OMS).
É recorde sobre recorde. O mês de agosto, segundo o Observatório do Clima (OC), teve o maior número de queimadas na Amazônia para o mês em um período de 11 anos. Isso corresponde também a uma alta de 41% da área queimada no bioma de janeiro a julho em relação ao mesmo período do ano passado.
Ibama não usa verbas contra queimadas na Amazônia
A marca coincide com a baixíssima execução pelo Ibama do orçamento para prevenção e controle de incêndios florestais em 2022. Até 5 de setembro a aplicação dos recursos disponíveis para essa finalidade foi de apenas 37%, informou o Observatório do Clima (OC), a partir de dados obtidos no Painel do Orçamento Federal (Siop) nesta segunda-feira (5). Na data, o Ibama havia liquidado apenas R$ 19,48 milhões dos R$ 52,75 milhões autorizados para prevenir e controlar incêndios nas florestas brasileiras.
Por meio de seu perfil no Twitter, o físico Ricardo Galvão criticou a situação. "Em 4 dias bateu-se o recorde de queimadas de setembro inteiro do ano passado. Mais uma vez a fumaça das queimadas da Amazônia chega a São Paulo. É revoltante o completo desrespeito à nossa população, à nossa floresta e nossa fauna", registrou.
Um os dez cientistas mais importantes do mundo em 2019 segundo a revista Nature, o então diretor do Inpe foi demitido por Jair Bolsonaro em julho daquele ano por divulgar dados sobre desmatamento obtidos pelo órgão. Ou seja, em vez de se combater a febre, melhor quebrar o termômetro.
Ao G1, o secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, lembrou que a situação na Amazônia vem piorando a cada dia desde o chamado "Dia do Fogo" na Amazônia, em agosto de 2019. "De la para cá, a situação só piorou e agora os destruidores da floresta estão fazendo o mês do fogo na Amazônia. Estamos vendo a maior floresta tropical do planeta ser carbonizada à luz do dia, uma situação que é alimentada pela impunidade e total falta de interesse do governo em combater o crime ambiental."