Quem passa pela Câmara Municipal de São Paulo, localizada na região central da cidade, já deve ter visto um protesto diário em frente à sede do Legislativo municipal. O coletivo Pagode Consciente realiza uma mobilização em caráter quase permanente reivindicando a cassação do vereador Camilo Cristófaro (Avante) por uma fala racista realizada em uma sessão de 3 de maio deste ano. Ele foi flagrado pelo sistema de som do plenário da Casa dizendo "é coisa de preto, né?".
Após um pedido da bancada de vereadores do Psol, a Polícia Civil iniciou uma investigação e indiciou o vereador pelo crime de racismo. Com a conclusão do inquérito, o Ministério Público apresentou denúncia em julho, pedindo à Justiça o reconhecimento de dano moral coletivo, com pagamento de indenização à sociedade, e também que o parlamentar perdesse o mandato.
Internamente, a Corregedoria da Câmara aceitou um parecer da vereadora Elaine Mineiro, do Quilombo Periférico (PSOL), e abriu um procedimento ético-disciplinar para apurar a conduta de Cristófaro em 19 de maio. A relatora admitiu quatro representações contra o vereador, três delas pedindo a cassação do mandato. E é por conta da conclusão desse processo que o Pagode Consciente realiza sua manifestação diária.
"Estamos há quatro meses protestando aqui na porta", conta Suelen Andrade, integrante do coletivo e quem lidera o ato. "A vereadora [Elaine Mineiro], quem pediu para parar a sessão após a fala racista do Cristófaro, tem o apoio do Pagode Consciente e algumas ONGs e sindicatos. Nos mobilizamos porque queremos a cassação dele", explica.
"Não vamos sair da porta"
A manifestação vem sendo feita em todos os dias úteis para alertar os vereadores e as pessoas que vão à Câmara Municipal.
"Nosso intuito é chamar a atenção das pessoas de fora e de dentro porque a gente pede a saída do Cristófaro. Uma pessoa dessas não representa a gente. Então, enquanto ele não sair, nós não vamos sair daqui da porta, ficamos de segunda a sexta", conta a manifestante, ressaltando que, durante esses meses, "de vez em quando a gente faz um ato maior, vem mais pessoas, um caminhão, pra chamar mais a atenção", conta, com um pagode de fundo, soando na caixinha de música que acompanha os manifestantes.
Em maio, a Câmara votou pela cassação de Cristófaro, com uma aprovação unânime de 51 votos e nenhuma abstenção. O legislador apresentou sua defesa e o processo ainda está em andamento. Um dia após o episódio, o Partido Socialista Brasileiro (PSB) desfiliou Cristófaro e, agora, movimentos antirracistas lutam pela cassação. "Estamos aqui para mostrar que isso não pode passar despercebido", afirma Suelen. "Enquanto não tivermos uma resposta sobre a cassação de Cristófaro, vamos ficar aqui."